A maravilhosa história de Nossa Senhora de Guadalupe

Ao longo da História , as manifestações de Nossa Senhora ao mundo são numerosíssimas e cada qual mais bela e impressionante. O poder de Nossa Senhora é atestado por livros, a começar pelo Gênesis e por diversos outros livros do Antigo Testamento, das Sagradas Escrituras, nos quais é prefigurada por grandes mulheres, entre as quais citamos Ester, Judite, Abigail e Rebeca, entre outras, – matéria que poderemos tratar em outros posts -, e do início ao fim do Novo Testamento, quando a sua figura, seu papel e extraordinária missão emergem por vezes discretamente e outras vezes de modo mais claro e até fulgurante.

Ademais, as outras fontes da Revelação Divina que são a Tradição Apostólica  e o Magistério da Igreja, e os denominados Padres da Igreja, aqueles gigantes da Fé Católica, dos primórdios do Cristianismo,  entre os quais podemos mencionar um são Jerônimo, Santo Ambrósio, um Santo Agostinho, um Santo Efrém, entre muitos outros, os quais explicitaram de modo inspirado e magistral muitos mistérios e verdades da Revelação, dentre eles os relacionadas a Nossa Senhora. E desse modo, assentaram uma vigorosa base para que muitos e muitos outros Santos e muitas  e muitas outras Santas , Doutores e Doutoras da Igreja, a exemplo de um Santo Tomás de Aquino, de um São Bernardo de Claraval, de uma Santa Catarina de Sena, uma Santa Teresa D’Ávila, de um São Luis Maria Grignion de Monfort, um Santo Afonso de Ligório, e em nossos tempos escritores e pensadores de escol, como o Professor Plinio Correa de Oliveira e o Monsenhor João S. Clá Dias, entre tantos outros, pudessem penetrar cada vez mais neste verdadeiro Paraíso da Santíssima Trindade, que é Nossa Senhora, deixando-nos páginas e obras magníficas  sobre Ela, suas virtudes e dons inefáveis, seu papel de Mãe de Deus e nossa e de Rainha do Céu e da Terra, bem como sua relação com todos os mistérios da Vida , Paixão, Morte e Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo! ! E mais, a própria riquíssima e belíssima Liturgia da Igreja, nas celebrações dos Sacramentos, máxime na Santa Missa, também dá-nos um inestimável contributo para o conhecimento e para a devoção à Santíssima Virgem!

Do mesmo modo, o povo de Deus, com suas multiformes e ardorosas devoções   à sua amada Mãe,  complementam  e corroboram com a doutrina e os ensinamentos contidos nas fontes acima referidas , a tal ponto que a Santa Igreja para a canonização de um santo e a proclamação de uma verdade de Fé, leva em conta o ” sensus fidei  fidelis” e o adágio “ vox Populi, vox Dei”, ou seja, considera o senso e a intuição do povo fiel. Exemplo disto é a devoção e a fé do povo católico em relação à Imaculada Conceição de Nossa Senhora, antes mesmo da proclamação do Dogma pelo Papa Beato Pio IX, em 1854,  desafiando inclusive a opinião de Santos e Doutores da Igreja !

Mas o que pensa a ciência e os sábios deste mundo sobre Nossa Senhora?

À primeira vista dir-se-ia que unanimemente seriam contra ou olhariam com desdém a figura da Santa Mãe de Deus! Ledo engano. E posso comprovar o que digo com a edição de dezembro de 2015 da Revista National Geographic, que possui status científico, em cuja capa figura uma estampa de Nossa Senhora com a seguinte legenda: A MAIS PODEROSA MULHER DO MUNDO!

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National Geographic destaca Nossa Senhora como ” A Mulher mais poderosa do mundo”

E o que é mais impressionante, destina nada mais nada menos do que 17 páginas com narrativas de 3 aparições de Nossa Senhora, entrevistas e comentários, entremeados  com muitas fotos alusivas ao tema. Trata-se de uma matéria séria e respeitosa com relação a Nossa Senhora! É de pasmar! Em determinado trecho, lê-se:

“A ideia de Maria como uma intercessora ante Deus vem da Escritura na passagem das Bodas de Caná, quando Jesus realiza seu primeiro milagre, depois de sua Mãe lhe indicar “não tem vinho”, para em seguida instruir os serventes “fazei tudo o que Ele vos disser”.”

” Desde então nenhuma outra mulher foi tão exaltada como Maria, como um símbolo universal de amor maternal” escreveu Orth (sobrenomeme da articulista). Como símbolo universal de amor maternal, assim como de sofrimento e sacrifício, Maria normalmente é a pedra angular de nosso desejo de significado, um vínculo mais acessível dos ensinamentos sobrenaturais formais da Igreja. Seu manto oferece tanto segurança quanto proteção”!

Para uma articulista de uma Revista de cunho científico não é pouca coisa!

Fiz questão de fazer esta introdução porquanto a Aparição de Nossa Senhora ao índio Juan Diego é, sem dúvida, uma das manifestações mais belas, impressionantes e significativas de nossa querida Mãe aos homens.

A beleza está retratada na estampa de Nossa Senhora operada milagrosamente na “Tilma” – espécie de manto ou de avental de Juan Diego, de material altamente perecível – entre 20 e 30 anos de durabilidade, e que se mantém intacto desde 1531, atualmente colocado atrás do altar da Básilica Nova na Cidade do México.

São Juan Diego: o índio que testemunhou a aparição de Nossa Senhora de  Guadalupe - Paróquia São José

De beleza e encanto únicos, o rosto de Nossa Senhora, seus expressivos e milagrosos olhos, seus cabelos, como também seu traje, com destaque para o seu manto, de cor azul que representa o céu, salientando que as estrelas nele representadas correspondem exatamente à posição das estrelas e constelações visíveis no céu daquela região no dia da aparição! Ademais, a Imagem com seu traje indica que Nossa Senhora é Virgem e que também em breve será Mãe, pois porta Ela em seu Seio seu amado Filho Jesus, e até moldura dourada significa os raios do sol que envolvem a Imagem. Tudo para instruir e maravilhar aquele povo intuitivo e místico que jazia enredado nas trevas da superstição e do paganismo.

Enfim, contemplem vocês mesmos a estampa com vagar que descobrirão muitas outras belezas e símbolos!

Mas também é muito belo e encantador o diálogo de Nossa Senhora com o afortunado Juan Diego, como se vê no momento em que este último deu a volta no monte para não encontrar a Virgem, e deparou-se com Ela que disse-lhe:

-“O que acontece meu filhinho mais pequeno? Aonde vais?”

-“Que não se perturbe o seu rosto e nem seu coração, não temas esta doença nem nenhuma outra, não fiques aflito, não estou Eu aqui que sou sua Mãe? Você não está debaixo da minha sombra e sob o meu cuidado? Não sou eu a fonte de sua alegria?”

Impressionante, porque na Estampa de Nossa Senhora estão encerrados verdadeiros milagres , constatados e confirmados por cientistas das mais variadas áreas. Apenas para se ter uma ideia, tomemos como exemplo o resultado da análise realizada no dia 7 de maio de 1979, pelo Professor Phillip Serna Callahan, biofísico da Universidade da Flórida, junto com especialistas da NASA, mediante a qual constatou-se que não se trata de fotografia nem pintura e que a Imagem não está colada no manto, mas distante 3 décimos de milímetro da tilma!

Mas o que mais os impressionou foi a constatação de que na pupila dos dois olhos da Imagem aparecem 13 figuras, que puderam ser reconhecidas!

Muito significativa a aparição porque se deu num momento difícil da evangelização do México, vez que a população nativa não estava correspondendo nem se abrindo às pregações e exortações dos missionários e por outro lado, estava resistindo aos colonizadores o que resultava num clima de hostilidades recíprocas . Então, a própria Mae de Deus, interveio para pacificar os ânimos e direcionar o povo para aceitação da palavra de Deus e para conversão de vida. Ela veio mostrar ao povo indígena, que adorava, como seu deus o sol , que a Igreja vinha trazer-lhes o verdadeiro Sol, Nosso Senhor Jesus Cristo, Deus e Homem verdadeiro, Este sim digno de adoração e amor , que  iluminaria suas vidas e lhe traria paz , felicidade e prosperidade!

Abaixo deixo-lhes um belo artigo, intitulado “ Nossa Senhora de Guadalupe”,” extraído do site http// http://www.arautos,org, desejando para todos, e cada um e cada uma, graças especiais de Nossa Senhora de Guadalupe neste momento em que a humanidade está desorientada e enferma em meio a uma pandemia causada por um vírus silencioso e perigoso, que já ceifou a vida de mais de  um milhão de pessoas e vem deixando outros  milhares de milhões doentes , apreensivos  e tomados pelo pânico, sem saberem em quem acreditar e o que fazer.

Façamos como San Juan Diego, ouçamos a voz de Nossa Senhora, acolhamo-lA como Mãe e atendamos aos seus rogos e admoestações, e voltemo-nos para o Seu Divino Filho Jesus, Sol de Justiça, nosso Caminho, Verdade e Vida. E porque somos fracos , utilizemo-nos do remédio e da arma mais poderosa, invencível e mais agradável a Deus e a Nossa Senhora, que é o santo Terço e assim teremos sempre Eles ao nosso lado em todas as situações que tenhamos que enfrentar!

“” NOSSA SENHORA DE GUADALUPE

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Em 9 de dezembro de 1531, João Diego estava nos arredores da colina Tepeyac, atual cidade do México. Repentinamente, ouviu uma música suave, sonora e melodiosa… era Nossa Senhora de Guadalupe

Pensa-se geralmente que João Diego, a quem Nossa Senhora de Guadalupe apareceu, era um indígena “pobre” e de “baixa condição social”. Contudo, sabemos hoje, por diversos testemunhos, que ele era filho do rei de Texcoco, Netzahualpiltzintli, e neto do famoso rei Netzahualcóyolt. Sua mãe era a rainha Tlacayehuatzin, descendente de Moctezuma e senhora de Atzcapotzalco e Atzacualco. Por isso, nestes dois lugares João Diego possuía terras e outros bens de herança.

A este representante das etnias indígenas do Novo Mundo, a Mãe de Deus apareceu há quase quinhentos anos, trazendo uma mensagem sobretudo de benquerença, doçura e suavidade, cuja luz se prolonga até nossos dias.

Para compreendermos a magnitude da bondosa mensagem de Nossa Senhora, devemos transladar-nos ao ambiente psico-religioso daquele tempo.

De um lado, as numerosas etnias que habitavam o vale de Anahuac, atual Cidade do México, haviam vivido durante décadas sob a tirania dos astecas, tribo poderosa, dada à prática habitual de sangrentos ritos idolátricos. Anualmente, sacrificavam milhares de jovens para manter aceso o “fogo do sol”. A antropofagia, a poligamia e o incesto faziam parte da rotina de vida desse povo.

Os dedicados missionários, chegados ali com os conquistadores espanhóis, viam a necessidade imperiosa de evangelizar aquela gente, extirpando de modo categórico tão repugnantes costumes. Entretanto, os maus hábitos adquiridos, a dificuldade do idioma e, sobretudo, um certo orgulho indígena de não aceitar o “Deus do conquistador” em detrimento de suas divindades, tornavam difícil a tarefa de introduzir nesse ambiente a Luz do mundo.

Deus Nosso Senhor, todavia, em sua infinita misericórdia, querendo que todos os homens “se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade” (1 Tim 2, 4), preparava uma maravilhosa solução para esse impasse.

Nossa Senhora de Guadalupe aparece a São João Diego

Em 9 de dezembro de 1531, João Diego estava nos arredores da colina Tepeyac, na atual Cidade do México. Repentinamente, ouviu uma música suave, sonora e melodiosa que, pouco a pouco, foi-se extinguindo. Nesse momento escutou ele uma lindíssima voz, que no idioma nahualt o chamava pelo nome. Era Nossa Senhora de Guadalupe.

Depois de cumprimentá-lo com muito carinho e afeto, Ela lhe dirigiu estas palavras cheias de bondade: “Porque sou verdadeiramente vossa Mãe compassiva, quero muito, desejo muito que construam aqui para mim um templo, para nele Eu mostrar e dar todo o meu amor, minha compaixão, meu auxílio e minha salvação a ti, a todos os outros moradores desta terra e aos demais que me amam, me invoquem e em mim confiem. Neste lugar quero ouvir seus lamentos, remediar todas as suas misérias, sofrimentos e dores.”

Em seguida, Nossa Senhora pediu a João Diego que fosse ao palácio do Bispo do México, e lhe comunicasse que Ela o enviava e pedia a construção do templo.

Sem hesitar, o “mensageiro da Virgem” foi entrevistar-se com Dom Luís de Zumárraga, e contou-lhe o que havia acontecido. Mas o Bispo não lhe deu crédito e mandou-o voltar outro dia.

Segunda e terceira aparições de Nossa Senhora de Guadalupe

Nesse mesmo dia, ao pôr-do-sol, João Diego, pesaroso, foi comunicar a Nossa Senhora o fracasso de sua missão. Em seguida, com encantadora inocência, pediu a Ela que escolhesse um embaixador mais digno, estimado e respeitado.

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A Mãe de Deus lhe respondeu: “Escuta, ó menor de meus filhos! Tem por certo que não são poucos os meus servidores, meus mensageiros, aos quais Eu possa encarregar de levar minha mensagem e fazer minha vontade. Mas é muito necessário que vás tu, pessoalmente, e que por teu intermédio se realize, se efetive meu querer, minha vontade. E muito te rogo, filho meu, o menor de todos, e firmemente te ordeno, que vás amanhã outra vez ver o Bispo. Faze-o saber de minha parte, faze-o ouvir o meu querer, a minha vontade, para que este a realize, faça meu templo, que lhe peço. Outra vez dize-lhe que eu, pessoalmente, a sempre Virgem Santa Maria, Mãe de Deus, te envio.”

No dia seguinte, depois de assistir à Missa, de fato João Diego voltou a procurar o Bispo Dom Zumárraga, que o recebeu com atenção, porém mais céptico ainda, dizendo-lhe ser necessário um “sinal” para demonstrar que era realmente a Rainha do Céu que o enviava. Com toda naturalidade, o indígena respondeu que sim, ia pedir à Senhora o sinal solicitado.

Todavia, na segunda-feira, dia 11, João Diego não se apresentou à hora marcada. Seu tio, João Bernardino, caiu repentinamente doente, e Diego tentou todos os recursos medicinais indígenas para curá-lo. Foi em vão. Quando o enfermo percebeu a aproximação da morte, sendo já cristão fervoroso, pediu a seu sobrinho que lhe tentasse trazer um sacerdote.

Ele foge, Ela vai ao seu encontro

Pressuroso, João Diego saiu ao amanhecer do dia 12 em busca do confessor. Mas decidiu tomar um caminho diferente do habitual, para que a “Senhora do Céu” não lhe aparecesse, pois pensava: “Ela vai me pedir satisfação de sua incumbência e não poderei buscar o sacerdote.”

Mas sua artimanha não funcionou. Para seu espanto, a Mãe de Deus lhe apareceu nesse caminho. Envergonhado, João Diego tratou de se desculpar com fórmulas de cortesia próprias do costume indígena: “Minha jovenzinha, filha minha, a pequenina, menina minha, oxalá estejas contente.” E depois de explicar-Lhe a enfermidade de seu tio, como causa de sua falta de diligência, concluiu: “Rogo-te que me perdoes, que tenhas ainda um pouco de paciência comigo, porque com isso não A estou enganando, minha filha pequenina, menina minha. Amanhã sem falta virei a toda pressa.”

Entretanto, lhe respondeu Nossa Senhora, com bondade e carinho próprios à melhor de todas as Mães: “Escuta, e põe em teu coração, filho meu, o menor: o que te assusta e aflige não é nada. Não se perturbe teu rosto, teu coração; não temas esta enfermidade, nem qualquer outra enfermidade e angústia. Eu estou aqui e sou tua Mãe? Não estás sob minha sombra e minha proteção? Eu sou a fonte de tua alegria? Não estás porventura em meu regaço? Tens necessidade de alguma outra coisa? Que nenhuma outra coisa te aflija, nem te perturbe. Não te assuste a enfermidade de teu tio, porque dela não morrerá por agora. Tem por certo que já sarou.”

Sinal para o “Mensageiro da Virgem de Guadalupe”

Assim que ouviu essas belíssimas palavras, João Diego, muito consolado, creu em Nossa Senhora. Mas era preciso cumprir a missão. Qual era o sinal? Ela lhe ordenou subir à colina de Tepeyac e cortar as flores que ali encontrasse. Esse encargo era impossível, uma vez que lá nunca elas nasciam, e menos ainda nesse tempo de inverno. Mas Diego não duvidou. Subiu a colina e no seu cume encontrou as mais belas e variadas rosas, todas perfumadas e cheias de gotas de orvalho como se fossem pérolas. Então cortou-as e as guardou em sua tilma (o poncho típico dos índios mexicanos). Todavia, ao chegar embaixo, João Diego apresentou as flores a Nossa Senhora, que as tocou com suas mãos celestiais e voltou a colocá-las na tilma.

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“Filhinho meu, o menor, esta variedade de flores é a prova e sinal que levarás ao Bispo. Tu lhe dirás de minha parte que veja nela a minha vontade e que ele tem de cumpri-la. Tu és meu embaixador, no qual absolutamente deposito toda a confiança. Com firmeza te ordeno que diante do Bispo abras tua manta e mostres o que levas.”

Afinal João Diego se dirigiu novamente ao palácio de Dom Zumárraga. Depois de muito esperar e insistir, por fim os criados o deixaram chegar à presença do Bispo. Logo depois, o “Mensageiro da Virgem” começou a narrar todo o sucedido com Nossa Senhora e em certo momento estendeu sua tilma, descobrindo o sinal. Dessa forma caíram as mais preciosas e perfumadas flores e, no mesmo instante, estampou-se milagrosamente no tecido a portentosa Imagem da Perfeita Virgem Santa Maria Mãe de Deus, que se venera até hoje no Santuário de Guadalupe.

Virgem de Guadalupe "continua convertendo" corações hoje

NOSSA SENHORA DE GUADALUPE, ROGAI POR NÓS!

SAN JUAN DIEGO, ROGAI POR NÓS!

Fontes de consulta:

1- Bíblia Sagrada da Ave Maria, Edição Claretiana 2013

2- “Maria Santíssima! O Paraíso de Deus revelado aos homens”, de João Scognamiglio Cá Dias, II volume , Arautos do Evangelho, São Paulo -2020

4- http://www.infoarautos.org.br/especial/21611/Nossa-Senhora-de-Guadalupe.html

Fidelidade de um Papa!

É com grande ufania que venho compartilhar com os caríssimos leitores um  magnifico discurso feito por esse grandioso Papa Santo,  de 23.12.1913 . Trata-se de São Pio X que, certa feita  disse: ” Nasci pobre, vivi na pobreza e quero morrer pobre”,  como se lê em seu testamento. Ele ao longo de sua vida incentivava a comunhão diária de todos os fieis, além de permitir que as crianças comungassem desde que entendessem, compreendesse quem está na Hóstia Consagrada.

Esse texto é de uma profundidade muito grande ,  aliás uma  marca característica do seu pontificado, durante o qual proclamava para o mundo verdades  perenes e que  ainda  hoje nos tocam porque estamos vivendo  situações desoladoras, como a apostasia generalizada  de paises católicos;  a destruição e o abandono  de tantas igrejas; a profanação  de sacrários e a quebra de imagens tão sagradas para nós cristãos, blasfêmias sendo cometidas a todos instantes!

Desejo que todos os leitores possam meditar essas linhas tão  sérias, escritas para nossos dias!

“Quanto mais a Igreja for hostilizada de todos os lados, quanto mais as falsas máximas do erro e da perversão moral infectarem o ar com seus pestíferos miasmas, tanto maior será, caros filhos, o vosso mérito perante Deus.

A Igreja, esta grande sociedade religiosa dos homens que vivem na mesma Fé e no mesmo amor sob a guia suprema do Romano Pontífice, tem um objetivo superior e bem diferente do da sociedade civil. Esta procura obter na terra o bem-estar temporal, enquanto a Igreja visa a perfeição das almas para a eternidade. Ela é um reino que reconhece somente a Deus por Senhor. A sua missão é tão elevada que transcende qualquer limite e reúne numa só família todos os povos, línguas e nações. Não se pode, portanto, sequer supor que o reino das almas esteja sujeito ao dos corpos, que a eternidade possa se transformar em instrumento do tempo, ou que o próprio Deus venha a Se tornar escravo do homem.

Importa obedecer a Deus antes que aos homens

São Pio X, o papa da Eucaristia | CNBB

Jesus Cristo, Filho do Eterno Pai, a quem foi dado todo poder no Céu e na terra, impôs aos primeiros ministros da Igreja, aos Apóstolos, esta missão: “Como o Pai Me enviou, assim também Eu vos envio” (Jo 20, 21). “Ide, pois, e ensinai a todas as nações, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-as a observar tudo quanto vos prescrevi. Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo” (Mt 28, 19-20).A Igreja recebeu do próprio Deus sua missão de ensinar. Sua palavra, portanto, deve ser transmitida a todos sem obstáculos que a detenham ou imposições que a refreiem. Cristo não a mandou se dirigir apenas aos pobres, aos ignorantes e às turbas, mas sim a todos, sem distinção, porque na ordem espiritual ela é superior a todas as soberanias da terra. É missão da Igreja governar as almas e administrar os Sacramentos. E como não cabe a mais ninguém, por nenhum motivo, penetrar no santuário divino, é obrigação dela opor-se a qualquer um que, com ingerências arbitrárias ou usurpações injustas, pretenda invadir esse campo. Ela tem também o encargo de ensinar a observância dos preceitos e de exortar à prática dos conselhos evangélicos. Ai de quem ensinar o contrário, provocando desordem e confusão na sociedade. Cabe-lhe, além do mais, o direito de possuir bens, pois está composta por homens, não por Anjos. Necessita conservar os recursos materiais doados pela piedade dos fiéis para o cumprimento de seus ministérios, o exercício exterior do culto, a construção de templos, as obras de caridade a ela confiadas, e para viver e perpetuar-se até a consumação dos séculos. Tão sagrados são os direitos acima mencionados que a Igreja sempre considerou seu dever sustentá-los e defendê-los, sabendo bem que, se cedesse um pouco às pretensões de seus inimigos, falharia no mandato recebido do Céu e cairia na apostasia. A História consigna uma série de protestos e reivindicações feitos pela Igreja contra aqueles que pretendiam escravizá-la. O primeiro se deu quando Pedro e os outros Apóstolos disseram ao judaísmo: “Importa obedecer antes a Deus do que aos homens” (At 5, 29). Estas sublimes palavras foram perpetuamente repetidas pelos seus sucessores e o serão até o fim do mundo, ainda que seja preciso um batismo de sangue para confirmá-las.

Há liberdade para todos, menos para a Igreja

Por que a Igreja católica é chamada Romana? | Cléofas

Disso estão persuadidos até os nossos próprios adversários, que repetem uma e outra vez estarem acolhidas à sombra de sua bandeira todo tipo de liberdades. Na realidade, há ali liberdade – ou, melhor, permissividade – para todos, menos para a Igreja. Liberdade para qualquer um professar seu próprio culto e defender suas próprias doutrinas, mas não para o católico enquanto tal, que é objeto de zombarias e perseguições, e não promovido àqueles cargos aos quais tem um direito sagrado ou deles privado. Há liberdade de ensino, mas sujeita ao monopólio de governos que permitem a propagação e a defesa de toda doutrina e de qualquer erro nas escolas, enquanto proíbem aos meninos estudar o catecismo. Liberdade de imprensa significa para eles dar rédeas soltas para que o mais furioso jornalismo estimule formas de governo em afronta contra a lei, incite a plebe à sedição, fomente ódios e inimizades, impeça por meio de greves o bem-estar dos trabalhadores e a vida tranquila dos cidadãos, vitupere as coisas mais sagradas e as pessoas mais veneráveis. O jornalismo católico, porém, que defende os direitos da Igreja e propugna os princípios da verdade e da justiça, deve ser vigiado, repreendido e apresentado diante de todos como adverso às instituições livres e inimigo da pátria. Permitem-se para todas as associações, até para as mais subversivas, manifestações públicas e clamorosas; mas as procissões católicas não podem sair das igrejas porque seria uma provocação para o partido contrário, a ordem pública seria perturbada e os cidadãos pacíficos, incomodados. Há liberdade de ministério para todos, cismáticos e dissidentes; mas no caso dos católicos, pretende-se que, quando um ministro da Igreja seja mandado a qualquer população, não se comporte como um “prepotente”, querendo se impor ao governo que lhe impede o ingresso no seu destino e o exercício de sua missão. Todos têm liberdade de possuir, mas não a Igreja e as Ordens Religiosas, cujos bens são, com arbitrária violência, requisitados, desapropriados e entregues pelos governos às instituições laicas.

O Senhor vos sustentará nesse combate

A Igreja Católica é constituída por 24 Igrejas autônomas, e você ...

Como bem sabeis, esta é a liberdade da qual goza a Igreja, inclusive em países católicos! Temos, pois, boas razões para nos consolarmos convosco, que a reivindicais lutando por ela no campo de ação que vos foi concedido até agora. Portanto, caros filhos, coragem! Quanto mais a Igreja for hostilizada de todos os lados e as falsas máximas do erro e da perversão moral infectarem o ar com seus pestíferos miasmas, tanto maior será vosso mérito perante Deus, se fizerdes todo o esforço possível para evitar o contágio e não deixardes arrancar nenhuma de vossas convicções, permanecendo fiéis à Igreja.Com vossa firmeza fareis muito frutífero apostolado, persuadindo adversários e dissidentes de que a liberdade da Igreja acarretará de modo admirável a saúde e a tranquilidade dos povos, porque, exercendo o Magistério divinamente confiado a ela, conservará intactos e em vigor os princípios de verdade e de justiça nos quais se apoia toda ordem e dos quais germinam a paz, a honestidade e toda cultura civil. Por certo, nessa luta não vos faltarão dificuldades, incômodos e fadigas: cuidai, porém, de não perder o ânimo, porque o Senhor vos sustentará nesse combate, com o abundante socorro dos favores celestes.”

Excerto de: SÃO PIO X. Discurso aos fiéis reunidos em Roma por ocasião do XVI.

 

 

 

 

 

in Revistacentenário da promulgação do Edito de Constantino, 23/2/1913

TOCHA ACESA DO DIVINO AMOR

Tenho uma apetência especial por artigos e livros que narram a vida de pessoas que marcaram o mundo com sua sabedoria, inteligência, desapego, renúncia e doação e que passaram suas vidas fazendo o bem, mas que não são conhecidas por muita gente.

Como já mencionei em outras oportunidades, faço parte do Coral dos Cooperadores dos Arautos do Evangelho, que foi convidado para animar uma Missa na Capela do Convento do Desterro, isto no dia 19 de julho de 2015, pois era aniversário de morte de uma freira muito santa, já considerada serva de Deus, etapa inicial para a beatificação de uma pessoa que morreu com fama de santidade.

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Ao entrar na abençoada Capela, sentei-me no primeiro banco e depois de um pequeno lapso de tempo, percebi uma estampa, aposta num cavalete, de uma religiosa com um rosto e sobretudo com um olhar angelical.

Perguntei então a um freirinha, com ar muito bondoso, que estava por perto, quem era aquela pessoa. E ela me disse: – “É a Madre Vitória da Encarnação, que está em processo de beatificação pela vida de santidade, de penitência e de sofrimento indizível, pelos dons místicos que possuía e pelos milagres que em vida fez e que continua fazendo após sua morte¨.

Fiquei admirando enlevada aquele olhar angelical e passei momentos absorta, rogando a Ela que intercedesse junto a Jesus, para atender os pedidos e súplicas que naquele momento eu fazia, pois como vivera uma vida santa, certamente rogaria pelas pessoas que a Ela recorressem.

Lembrei-me daquela parábola do Evangelho, em que a viúva desamparada de tanto importunar o Juiz dele acabou alcançando uma sentença favorável.   E assim rezei com confiança redobrada por meio daquela intercessora!

E naquele momento, cresceu dentro de mim um forte desejo de conhecer um pouco  a vida daquela Religiosa que a todos ali atraía, santa Irmã  de  olhar de anjo  e cheio de fogo, que resplandecia  pureza e caridade!

Logo a Santa Missa teve início, solenizada com cantos gregorianos e outros apropriados para a sublime Celebração presidida por nosso Arcebispo D. Murilo Krieger, que na sua homilia fez um relato muito substancioso e elucidativo sobre a vida da Madre Vitória.

Após a Celebração,  jovens   que integram a Comissão pró-beatificação de Madre Vitória, entre os quais cito os Professores Tiago e Tadeu, se puseram a conversar sobre sua vida, com os participantes do Coral  e eu ali ouvindo e ouvindo, atentamente,  fui me envolvendo numa atmosfera de paz e alegria, a cada passo que os jovens narravam algum fato. E assim  surgiu  o desejo de escrever singelas palavras neste despretensioso blog,   para colaborar na difusão das virtudes heroicas desta insigne baiana,  mesmo sabendo que muitos historiadores e escritores célebres já o fizeram, a exemplo do  nosso  santo Arcebispo, D. Sebastião da Vide, seu primeiro biógrafo, Afrânio Peixoto, Pedro Calmon e Amélia Rodrigues,  entre outros , e isto me faz honrada, agraciada e muito feliz. É como a gota d’água no oceano, sem a qual este não seria o que é, como dizia Santa Tereza de Calcutá.

 E para tanto solicitei, juntamente com meu marido,  aos jovens Professores Thiago e Tadeu, mais informações bibliográficas sobre a história da vida daquela Serva de Deus, cuja estampa tanto me cativara.

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Após  deles receber preciosas informações e indicações bibliográfica de boa cepa, tornei-me também uma devota dela, resolvendo escrever um post para este blog que pudesse de algum modo contribuir para a beatificação da Madre Vitória.

E neste sentido, louvando-me nos dados contidos no excelente artigo de autoria do Grupo Amigos da Madre Vitória, entremeei algumas observações pessoais que me surgiram da leitura  do  substancioso Escrito de D. Sebastião da Vide, contemporâneo de Madre Vitoria, o mais importante de todos,  e do belíssimo Livro de Amélia Rodrigues, intitulado: “ Uma Flor do Desterro”.

Serva de Deus Vitória da Encarnação, Virgem Clarissa. Primeira brasileira a viver e falecer com fama de santidade.

 “MADRE VITÓRIA DA ENCARNAÇÃO nasceu na cidade do Salvador, então capital do Brasil colonial, em 6 de março de 1661, sendo batizada no mesmo ano na antiga Sé da Bahia. Foram seus pais, Bartolomeu Nabo Correia e Luísa Bixarxe. Teve um irmão e três irmãs. Conforme escreveu Dom Sebastião Monteiro da Vide (1720), a casa desta família era um exemplo de lar cristão.

 Em 1675, quando Vitória estava com 14 anos, seu pai desejou enviá-la, juntamente com sua irmã mais velha, Maria da Conceição, para um convento nos Açores, em Portugal, porém a menina se recusou, dizendo que preferia que lhe cortassem a cabeça de que ser enviada para um convento.

 Em 1677, quando foi fundado o primeiro mosteiro feminino no Brasil, o Mosteiro de Santa Clara do Desterro da Bahia, Vitória, então com 16 anos de idade, ainda dava mostras de aversão à vida religiosa, preocupando seus pais com seu comportamento.”

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  A origem desta Fundação está num milagre realizado por Nossa Senhora do Desterro em favor de um cavaleiro que após sentar-se no passeio da frente de uma pequena ermida erigida em  uma região montanhosa de Salvador de então, em meio a uma floresta virgem, acordou apavorado pois se encontrava  fortemente enroscado por uma jiboia gigante prestes a ter seus ossos e suas carnes por ela esmagados, para ser em seguida engolidos pelo dantesco réptil, quando das profundezas do seu coração suplicou alto e em bom som: – “ Valei-me Nossa Senhora do Desterro!” –  “  Salvai-me Nossa Senhora do Desterro” e ainda por uma terceira vez: – “ Valei-me minha Nossa Senhora!” Como num passe de mágica,  conseguiu puxar com uma de suas mãos o punhal que se encontrava preso à sua cintura e desferiu um golpe certeiro num ponto vital da garganta do monstro rastejante, que imediatamente perdeu suas forças, estertorou e em seguida morreu, podendo o confiante devoto de Nossa Senhora desvencilhar-se de tão sinistro abraço, pôr-se de joelhos e agradecer à Mãe de Deus tão insigne favor Ato contínuo, conseguiu arrastar o seu troféu até o centro da nascente Cidade de Salvador, atraindo toda a população que exultante de alegria, agradecia a Nossa Senhora por tão significativo sucesso!

 Por coincidência, o nosso Terceiro Governador-Geral, o valoroso Mem de Sá, acabava de chegar de uma viagem e muito se alegrou com o acontecido e foi com uma grande quantidade de pessoas até a abençoada ermida, na qual, em uma de suas toscas paredes foi colocada a pele da malfadada jiboia, e sobretudo muito se rezou e se agradeceu a proteção de Nossa Senhora.

  Por inspiração divina, Mem de Sá teve a feliz ideia de ali construir uma igreja e um convento para abrigar vocações religiosas femininas que abundavam em nossa Cidade, mas que para serem correspondidas demandavam uma perigosa viagem a Portugal, expostas a morrerem em naufrágios  ou a se tornarem escravas de cruéis piratas que infestavam a rota marítima que as levaria ao seu destino,  naqueles tempos. Embora não tivesse o nosso insigne Governador Geral visto a realização do seu intento, a igreja foi construída, em seguida o Convento, em honra de Santa Clara de Assis, o primeiro do Continente Americano! E  no ano de 13 de maio de 1669, o Papa  Clemente IX atendeu à solicitação do Arcebispo de então e autorizou a vinda de Freiras do Convento de Évora, para fundar a Ordem das Irmãs Clarissas em nossa Terra. E vai ser neste solo bendito que vicejará a sua mais bela Rosa, Madre Vitória da Encarnação, como veremos mais abaixo.

 Retomando o fio da meada:

 “Vivia em Salvador, naquela época, um jesuíta de muita piedade a quem o povo venerava como santo já em vida e tinha fama de ser um profeta, o padre João de Paiva. Foi a ele que o pai de Vitória recorreu aflito para queixar-se do comportamento de sua filha em relação à religião, pedindo ao padre que rezasse por ela. O padre João o acalmou dizendo que a menina seria, no futuro, uma grande religiosa.

 Passaram-se alguns anos e Vitória começou a ter frequentes sonhos com a Mãe de Deus e seu Divino Filho. Neles a Virgem lhe apresentava o Menino e chamava-a para a vida consagrada. Em outros momentos, via o Divino Menino a colher flores no caminho para o convento e a chamava para lá. Tais sonhos se repetiram inúmeras vezes, porém, Vitória não quis seguir o que a Virgem e o Menino pediam.

 Numa terrível noite do ano de 1686, quando Vitória estava com 25 anos de idade, teve um sonho horrendo, no qual se via nos porões sujos e cheios de lodo de uma grande embarcação que navegava em alto mar. Viu neste sonho que estava acompanhada de pessoas impiedosas que caminhavam para a perdição. Enquanto que na parte de cima da embarcação haviam muitos religiosos contentes pois caminhavam para a salvação. Seu Anjo da Guarda então lhe explicava que os navegantes da parte superior eram os que faziam a vontade de Deus e estavam salvos, enquanto que os que estavam nos porões, assim como ela, eram os que caminhavam para a perdição.

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 Ao acordar daquele sonho aterrador, Vitória pensou em sua vida, arrependeu-se de sua recusa à religião e tomou a firme decisão de consagrar-se totalmente a Deus e passar o resto da vida fazendo Sua santa vontade. Ajoelhou-se aos pés de seu pai para pedir-lhe a bênção e implorou-lhe para que o mesmo fizesse o que fosse preciso pra que ela entrasse para o convento.

 Naquele mesmo ano, num domingo pela manhã, em 29 de setembro, dia de São Miguel Arcanjo (uma de suas grandes devoções), Vitória foi acolhida no noviciado das monjas clarissas do Mosteiro do Desterro da Bahia e juntamente com ela, foi acolhida também a sua irmã, Maria da Conceição. Recebeu neste dia, o nome religioso de Vitória da Encarnação. No ano seguinte (1687), conforme seu desejo, fez profissão Solene em 21 de outubro, dia em que se celebrava na cidade de Salvador a festa das Onze Mil Virgens”

 Como vemos acima, resistiu por quase dez anos ao chamado de Nossa Senhora e do Menino Jesus para que ela se tornasse freira, até que um sonho aterrador a fez abrir o seu coração e dizer o sim tão esperado por Eles! São os caminhos de Deus! Felizmente que a nossa Madre atendeu ao chamado de Deus, pois se assim não o fizesse a sua sorte seria terrivelmente bem outra. E mais, a de centenas de outras pessoas, e porque não a de uma Cidade, então nascente e em formação, também certamente seria bem diferente, pois não teria uma vítima expiatória, um modelo de vida e uma intercessora do quilate de nossa Santa Madre!

 Apenas à guisa de atender à curiosidade de alguns leitores, a Festa das Onze mil Virgens é uma belíssima legenda em torno do Martírio de Santa Úrsula, muito em voga na Idade Média, e como se vê em nossa Cidade no século XVII.

 Sua vida como religiosa

 Em seguida, o artigo em comento, tece considerações sobre a vida religiosa de Madre Vitória.

 “Mostrou-se grande em suas virtudes. Desapegada de tudo o que é mundano, quis fazer-se a menor de todas e aquela que servia a todas. Dotada de imensa caridade para com os mais desvalidos, desejou viver como uma escrava e adotou para si o estilo de vida das servas que viviam no mosteiro servindo as religiosas. Fazia suas refeições sentada no chão, como era costume entre os escravos da época, corria para fazer os trabalhos que ninguém queria, e por querer ser a menor de todas, foi diversas vezes ridicularizada e até mesmo agredida, levando uma bofetada de uma das servas a quem ela tanto servia e quis se fazer semelhante. Cuidava daquelas que adoeciam, levando-as para sua própria cela e de lá só saiam quando completamente curadas. Suportou diversas humilhações calada e com paciência, pois considerava-se digna de todas aquelas ofensas”.

 Vejam, meus irmãos que, conquanto vivesse ela de modo exemplar, fiel ao carisma de Santa Clara de Assis, discípula perfeita de São Francisco, e passasse a sua vida no convento, servindo e fazendo o bem a todas que ali moravam, foi por diversas vezes ridicularizada e até mesmo agredida, chegando a ser esbofeteada! Isto parece um absurdo inexplicável, mas na verdade confirma sua santidade, pois passar por sofrimentos, humilhações e desprezos é uma constante na vida dos santos, cujo modelo é o próprio Jesus que sendo Deus e Homem verdadeiro, passou a sua vida fazendo, e como recompensa sofreu todos os tipos de padecimentos e morreu crucificado. Ademais. Madre Vitória tinha uma devoção muito especial a Nosso Senhor Jesus dos Passos para Quem erigiu uma Capela dentro do próprio Convento.

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Santa Clara de Assis

 “Viveu inteiramente dedicada aos pobres, doentes e desamparados que procuravam o mosteiro em busca de socorro. Pela sua grande caridade recebeu dos pobres o apelido de “madre Esmoler. Quando exercia o cargo de porteira, grande quantidade de pessoas dirigia-se à portaria para pedir-lhe algum auxílio. Atendeu a todos quantos podia, e de dentro da clausura recomendava aos seus familiares que cuidassem daqueles pobres e doentes que ela não poderia socorrer, mas que vinha a saber que estavam necessitados. Doou em vida tudo o que possuía aos pobres, inclusive a cama na qual dormia, passando então a dormir no chão sobre uma esteira de palha. Por esse motivo, não morreu em sua própria cela. Quando estava prestes a falecer foi levada para a cela de outra monja pois suas coirmãs não quiseram deixá-la morrer no chão.

 Dotada de dons místicos, se transfigurava quando fazia a via-sacra, todas as sextas-feiras do ano. Um desses eventos foi testemunhado pelas outras religiosas quando participava de uma procissão do Senhor Bom Jesus dos Passos no corredor da clausura, e foi narrado por Dom Sebastião em seu livro. Conforme o mesmo escreveu, “brotavam nas faces duas rosas, com cuja púrpura avivando-se o desmaiado e penitente do rosto, arrebatava as atenções das que a viam, não podendo reprimir as lágrimas da devoção que lhes causava esta devota penitente.

 Tinha tanto desejo de imitar ao Divino Esposo em seus sofrimentos, que castigava-se com cilícios e disciplinas duríssimas, chegando a converter os pecadores que passavam pela via próxima ao convento e que ouviam o barulho daquelas chibatadas. Fazia rigorosos jejuns e quando comia algo que lhe agradava o paladar, misturava cinzas à comida para estragar o sabor”.

  Dois outros pontos a ressaltar: os duríssimos sofrimentos a que se submetia para imitar ao seu Divino Esposo Jesus, bem como para converter os pecadores, o que revela a sua sede de almas que a levava a se oferecer como uma vítima expiatória e propiciatória, ou seja vivia para reparar as faltas e dívidas dos pecadores e  ao mesmo obter-lhes o perdão e a conversão.

 “Em uma noite viu o Senhor a andar pelo corredor do mosteiro com sua pesada cruz às costas. Ao encontrá-lo, Ele disse-lhe: “Esposa minha, vem e segue meus passos”. Desde então começou a carregar uma grande cruz às costas durante as madrugadas das sextas-feiras. Foi a Madre Vitória a responsável pela difusão da devoção ao Senhor Bom Jesus dos Passos na cidade de Salvador e mandou construir dentro da clausura do mosteiro uma capela a Ele dedicada.

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  Vejam, caríssimos irmãos, até que ponto pode uma freira santa, como o foi a Madre Vitória, influenciar nas práticas religiosas e nos costumes de uma Cidade, como Salvador,  que era então a Capital do Brasil, que passou a ter grade devoção ao Senhor Bom Jesus dos Passos seguindo o exemplo da Madre Vitoria, e com isto prestando um culto muito grato ao Divino Mestre.

 “Amou tanto as almas do purgatório que sufragava-as diariamente com orações e oferecia-lhes todas as missas em seu favor. Conforme narrou seu biógrafo, muitas almas se mostraram a ela em seus sofrimentos no purgatório e também voltavam para agradecer-lhe pelas orações em seu favor, quando de lá saíam para o Céu, resplandecentes de luz”.

 Esta tão salutar devoção às santas almas foi outro aspecto muito saliente na vida mística da Santa Madre. D. Sebastião da Vide conta vários fatos que revelam o convívio habitual que ela tinha com estas almas.

 “Tinha o dom da revelação e profecia. Era capaz de saber o local exato em que uma pessoa, tida por desaparecida, se encontrava, assim como de prever acontecimentos futuros. Chegou a descrever eventos que aconteceriam por ocasião e após sua morte. Tinha também a capacidade de encontrar objetos e animais desaparecidos. Passava maior parte da noite em vigília diante do Santíssimo Sacramento e por esse motivo foi chamada, pelo seu biógrafo o arcebispo da Bahia, de “tocha acesa no Divino Amor”.”

 Tinha ela o dom da Profecia! Previa acontecimentos futuros!

 A Eucaristia é a Fonte e o ápice da espiritualidade da nossa Religião de onde promanam todas as graças e dons dos quais necessitamos para nossa salvação eterna e nossa santificação. E a nossa Madre nutria um amor tão ardente por Jesus Sacramentado que recebeu este honroso título do seu principal biógrafo: Tocha acesa no Divino Amor! Meus irmãos e irmãs, isto não é pouca coisa não! Devemos imitá-la nunca deixando de participar das Santas Missas em dias de Domingo e Santificados de preceito, além de procurarmos fazer visitas e Adoração ao Santíssimo Sacramento, com o que estaremos agradando muitíssimo a Jesus.

 “Teve por companheiras mais próximas em seus exercícios penitenciais duas outras monjas, também biografadas por fama de santidade, a saber, Madre Maria da Soledade e Madre Margarida da Coluna. Era frequentemente tentada pelo demônio por meio de visões aterradoras e desses terríveis combates espirituais sempre saía vitoriosa. Alguns deles ocorreram quando estava junto a estas companheiras. Em um deles a Madre Maria da Soledade foi lançada de cima do coro para baixo sem sofrer muitos danos físicos.”

 O seu exemplo de vida, seus sofrimentos e orações frutificaram na santificação de companheiras de hábito e de exercícios penitenciais e, por outro lado, suscitaram a fúria do demônio, por meio de visões e de ações, a ponto de em determinada ocasião o demônio lançar uma das Madres do coro ao chão!

 

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Igreja do Desterro

Como se vê. as ações demoníacas do gênero não ocorreram somente com São João Vianney, São Frei Pio e outros grandes santos, mas também aqui em nossa terra com grandes almas Santas que um dia  também serão canonizadas!

 “Sentindo que se aproximava ou dia de sua morte fez diversas recomendações às suas irmãs. Uma delas foi o pedido de ser levada à sepultura pelas mãos das servas a quem ela tanto amava. Outro pedido feito foi o de não ser enterrada com o hábito que usava em vida, pois não queria levar para o túmulo nada que tivesse lhe pertencido neste mundo e pediu que cada uma das irmãs doasse a ela uma peça do hábito religioso com o qual ela seria enterrada.

 Após 29 anos de clausura e de total consagração de sua vida à Cristo e ao próximo, faleceu numa sexta-feira, às 15 horas, 19 de julho de 1715, acompanhada do padre e das irmãs que a assistiam. No momento de sua morte as religiosas disseram ter sentido uma maravilhosa fragrância de rosas a inundar as dependências do mosteiro. E durante o rito das exéquias um misterioso passarinho foi visto voando pelos corredores do mosteiro numa velocidade jamais vista para um pássaro comum. Os que ali se encontravam narraram este fato a que Dom Sebastião dissera ser “a alma da Madre Vitória voando para as mansões celestiais”.

 Quantos fatos cheios de beleza e de grandeza cercaram a morte e o sepultamento de Madre Vitória que nos fazem lembrar a poesia e o encanto dos fatos narrados num famoso livro sobre a vida de São Francisco, denominado “ I Fioretti” – ” As Florzinhas”!

 “Ao se espalhar a notícia de sua morte, uma grande multidão se aglomerou diante do convento. Logo toda a cidade ficou a saber, pois diziam ter morrido a “santa da Bahia”. Muitos levavam lenços, medalhas, terços e outros objetos e pediam que as religiosas os tocassem no corpo da “santa”. Esses objetos eram guardados por essas pessoas e eram tidos como verdadeiras relíquias. Como a quantidade de pessoas às portas do convento crescia cada vez mais durante aquela noite, e não paravam de chamar pelas religiosas para que tocassem seus objetos ao corpo da madre, se viram obrigadas a não mais saírem à portaria e não puderam atender mais a nenhum deles.

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 — “Vox Populi, vox Dei”, traduzindo: “A voz do povo é a Voz de Deus!” Como se aplica, como uma luva, este brocardo, ao caso vertente! Era tal a fama de santidade da vida de Madre Vitória que ao simples anúncio de sua morte,” uma grande multidão”, quem assim fala é o nosso santo Arcebispo D. Sebastião David, se aglomerou diante do Convento proclamando-a a “Santa da Bahia”! Além disso, levavam lenços, medalhas, terços e outros objetos para serem tocados no corpo da Madre Vitória, certos de que obteriam de Deus por meio dela, graças e favores!

  “Seu corpo foi velado durante toda a noite na capela que a mesma havia mandado construir em honra ao Senhor dos Passos, e foi enterrado no dia seguinte no cemitério conventual. Ao tentarem, as irmãs, levarem o corpo para a sepultura, o esquife tornou-se tão pesado que não se movia do lugar. Ao se lembrarem do pedido da madre de que fosse levada à sepultura pelas mãos das servas, chamaram-nas para que levassem o corpo. Quando estas levantaram o esquife, parecia não haver nele corpo algum, pois o mesmo estava leve como que quase sem peso algum.

 Inúmeros foram os milagres narrados pelos seus devotos logo após sua morte. Sendo crescente o número desses supostos milagres, o então arcebispo da Bahia tratou de interrogar as religiosas do Desterro sobre a vida que teve a Madre Vitória. Em 1720, apenas cinco anos após a sua morte, Dom Sebastião Monteiro da Vide publicou em Roma a biografia da “santa da Bahia” com o título “História da Vida e Morte da Madre Soror Victória da Encarnação”.

 O zeloso arcebispo jesuíta pretendia solicitar a abertura da sua causa de beatificação e chegou a compará-la à Santa Rosa de Lima. Porém faleceu em 1722. Anos mais tarde, com a perseguição do Marquês de Pombal aos Jesuítas e proibição de muitos dos seus escritos no Brasil, diversos livros se perderam. Isso dificultou a difusão da sua história. Mas a memória da Madre Vitória não se apagou dentro do convento em que viveu, nem nas mentes daqueles que pela tradição oral ou pelos poucos escritos que restaram, vieram a saber da sua vida e fama de santidade. E muitos ainda esperam vê-la elevada à honra dos altares.

 Seus restos mortais encontram-se na igreja do Convento de Santa Clara do Desterro e estão depositados acima de uma das portas que ligam o coro de baixo à nave da igreja. 

 Em busca da beatificação

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 Cinco anos após o falecimento da Madre Vitória, devido sua fama de santidade e ao grande número de curas milagrosas por sua intercessão, o então arcebispo da Bahia, o jesuíta Dom Sebastião Monteiro da Vide, desejando torná-la conhecida e promover sua causa de beatificação, publicou em Roma sua biografia com o título “História da Vida e Morte da Madre Soror Vitória da Encarnação”.

 Com a morte de Dom Sebastião e as dificuldades de comunicação da época, assim como a diversos outros problemas como a expulsão dos jesuítas do Brasil pelo Marquês de Pombal e a perseguição às ordens religiosas que se seguiram nos anos posteriores culminando com a extinção de alguns mosteiros, entre eles o das clarissas da Bahia, a causa da Madre Vitória não seguiu adiante. Muitos escritos de jesuítas foram proibidos de circular e a biografia da madre quase desapareceu. Mas a tradição oral e a discreta devoção nutrida pelos fiéis que frequentavam o convento do Desterro mantiveram viva a sua memória e 300 anos após seu falecimento a Madre Vitória continua sendo lembrada como a primeira religiosa do Brasil com fama de santidade.

 Três séculos se passaram e o interesse dos devotos na beatificação da Madre Vitória resistiu. O Arcebispo de São Salvador da Bahia e Primaz do Brasil, Dom Murilo Krieger, fez um pedido à Congregação para a Causa dos Santos de abertura oficial da sua causa de beatificação. No dia 07 de julho de 2016, a Congregação para a causa dos Santos emite o decreto ‘nihil obstat’ que autoriza a abertura do processo de beatificação da Madre Vitória e dá a ela o título de Serva de Deus. Enquanto isso seus devotos e admiradores permanecem em oração nos dias 19 de cada mês diante do seu túmulo, no Convento do Desterro, esperando que em breve esta fiel filha de São Francisco e Santa Clara seja elevada às honras dos altares.”

 Madre Vitória da Encarnação, rogai por nós! Rogai pela cidade de Salvador, pela Bahia, pelo Brasil. Enfim pelo mundo inteiro, que se acha no momento em que escrevo essas mal traçadas, imerso numa situação de pânico e de medo causados pela propagação de um vírus que que já ceifou milhares de vida, em mais de cem países, e já infectou mais de 130.000,00 pessoas, e salvo honrosas exceções, procura resolver tão angustiante problema por meio de medidas profiláticas, higiênicas, medicamentosas, internamentos hospitalares e de confinamentos, esquecendo-se do principal: voltar-se humilde, contrito e confiante para Deus, cair de joelhos, e de mãos postas, pedir a Nosso Bom Deus, por meio de Nossa Senhora, a graça do perdão e da emenda de vida, como o fez o filho pródigo ante seu Pai!

 Desejo a todos os leitores e leitoras deste  artigo, que a Madre Vitória da Encarnação alcance-lhes de Deus muitas graças e bençãos dos Céu, como o fez enquanto esteve viva, com todos que  passaram  de algum modo em seu caminho.

P.S : Todos os anos, O Grupo de Amigos de Madre Vitória promove a celebração de uma Santa Missa no dia 19 de julho, para fazer memória à santa vida de Madre Vitória e para obter de Deus a beatificação desta insigne e valorosa Freira, nossa conterrânea a fim de que nos sirva de exemplo para crescermos, cada vez mais, no amor a Deus Nosso Senhor.

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Professores Thiago e Paulo Thadeu – Devotos empenhados na Beatificação da Madre Vitória

Bibliografia:

  • SEBASTIÃO MONTEIRO DAVID. História da vida e morte da Madre Sóror Victoria da Encarnação: Roma, 1710.
  • RODRIGUES, amelia. Uma Flor do Desterro: Niterói, 1924.

Fontes de Consulta:

 

Dom Pedro II: O Grande Estadista

Caríssimos leitores, vocês sabiam que o Brasil em passado recente figurava entre as maiores potências políticas do mundo de então, isto no período denominado Segundo Império, de 1840 a 1889, no qual pontificou o Imperador D. Pedro II, o maior estadista do Brasil e um dos maiores estadistas de todo o mundo!

 Ocorre, caríssimos leitores que, de um modo geral, a História do Brasil, com honrosas exceções, não nos foi bem contada. Não nos explicaram bem determinados fatos, não ressaltaram o valor de muitos homens e mulheres que ajudaram a formar a nossa nacionalidade, não nos revelaram grandes feitos e realizações de nossa Monarquia, tampouco a genialidade e funcionalidade de nossa forma de Governo e de nosso Regime político – uma Monarquia constitucional com Poder moderador; também omitiram  a pujança dos nossos partidos políticos, o conservador e o liberal, de modo especial, que se alternavam no exercício do poder legislativo, nem tampouco ressaltaram a probidade e o  compromisso dos seus integrantes com a coisa pública, o que coibia e reduzia, paulatinamente a casos episódicos os deslizes, que uma vez cometidos,  alijavam para sempre da vida pública seus autores.

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 Bem entendido,  portanto, não estamos afirmando que tudo foram flores, que não houve defeitos e desacertos, até porque isto é impossível em virtude das debilidades, fraquezas e misérias do ser humano, como deflui do Salmo 50, 7 em  que o Rei Davi exclama: “ Eis que nasci na culpa, minha mãe concebeu-me no pecado,” E mais adiante, no versículo 9 clama: “ Aspergi-me com um ramo de hissope e ficarei puro.  Lavai-me e me tornarei mais branco do que a neve”. E esta é luta cotidiana do homem aqui na Terra- do homem novo nascido da Graça contra o homem velho concebido no pecado, como nos adverte São Paulo na Carta aos Efésios 4, 22. E que se aplica também, “mutatis mutandis”, à formação, desenvolvimento e aperfeiçoamento das nações e dos países.

 Todavia, o que importa é que, de um modo geral , na  essência e nos  propósitos, logramos atingir um nível de excelência em termos de governança, estabilidade política e econômica, e probidade, mormente no que tange à preocupação com bem comum e o trato com a coisa pública, jamais alcançado em nossa História, o que nos colocou em posição de destaque no concerto das nações mais desenvolvidas, a exemplo da Inglaterra, Áustria e Estados Unidos!

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Dom Pedro II é aclamado imperador do Brasil, permanecendo por 49 anos no poder

 E neste sentido vou pincelar alguns fatos e realizações através dos quais esse grande estadista, nosso Imperador D. Pedro II, concretizou de forma brilhante o seu ideário político e sua paternal governança , deixando-nos a um só tempo, orgulho e  saudades,   por  termos vivido uma época, relativamente longa, em que a regra de ouro era a honestidade, máxime quando se tratava da “res publica”, do respeito às instituições e às leis e às regras morais,  dos direitos do cidadão, e onde o habitual eram o normal e a virtude,  e portanto havia uma certa “douceur de vivre”, e obviamente com muitos menos problemas, do que os  que hoje enfrentamos, em nossa vida cotidiana e em nossa  vida política.

É claro que havia problemas, desentendimentos e sobretudo em época de eleições, em que as paixões costumam sobrepôr-se à razão, mas como vamos ver mais adiante, o Imperador era no dizer do então senador Ruy Barbosa “ uma sentinela vigilante de cuja severidade todos se temiam, e que acesa no alto guardava a redondeza como um Farol que não se apaga em proveito da honra, da justiça  e da moralidade” ( discurso de 14 de dezembro de 1914) e que, por outro lado, tudo de relevante anotava em seu caderninho preto e, no momento oportuno, sabia punir os faltosos e evitar que prosseguissem na prática de atos ilícitos e reprováveis e fizessem carreira, indeferindo-lhes uma indicação ou postulação para algum cargo público.

Um ponto que merece uma consideração especial diz respeito à escravidão, sendo frequente ouvirmos dizer que o Brasil foi um dos países que mais demorou em aboli-la, o que não se pode negar. Contudo, importa ressaltar que o Imperador não possuía escravos, pois alforriou todos os que pertenciam à sua família e logo que assumiu o poder conseguiu a aprovação da Lei Euzébio de Queiroz que proibiu o tráfico de escravos, a partir de então, e isto em meio a fortes pressões dos interessados em manter a mão de obra escrava.

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A realeza brasileira, com a Princesa Isabel ao centro, durante missa campal celebrando a abolição da escravatura, em 17 de maio de 1888.

Ademais, foi estimulando e sancionando todas as Leis que paulatinamente iam extinguindo essa pecha do Brasil, a exemplo da Lei do Sexagenário e a do Ventre Livre o que acabou sendo feito por sua filha a Princesa Isabel, através da Lei Áurea, numa das viagens do Imperador ao exterior, e que foi uma das causas da queda do Império, mediante a proclamação da República, um surreal golpe de Estado, em que o Marechal Deodoro da Fonseca que nem sabia bem o que estava fazendo, quando os republicanos positivistas o tiraram da cama, pois estava dispneico, e o colocaram num lombo de um cavalo, dizendo-lhe que era preciso derrubar o Chefe do Gabinete, Visconde de Ouro Preto. E no dizer do republicano Aristides Lobo, “ o povo assistiu bestializado” o malsinado ato. Já a consagrada obra “Revivendo o Brasil Império”, de Leopoldo  Bibiano Xavier e outros críticos do golpe, dizem que a “República nasceu dispneica.”.

Há um ditado popular que diz: “Pau que nasce torto, não tem jeito morre torto…”

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 Marechal Deodoro e suas tropas

E foi assim que a nossa República vem registrando, ao longo de seus 130 anos, uma sucessão de crises e desatinos ( em meio a pequenos períodos de estabilidade),  que não vem ao caso enumerar aqui, naufragando em um verdadeiro mar de lama, no que se refere à corrupção, lavagem de dinheiro e outras práticas criminosas, como fartamente noticiado pelas redes sociais e por nossos meios de comunicação, do qual vem lutando para sair pois felizmente ainda temos pessoas honradas e que querem ver o nosso País cumprir a missão para a qual Deus lhe destinou e que permita o nosso povo sonhar novamente com dias melhores para si e para suas famílias e futuras gerações.

O grande pensador Cícero afirmou, com muita sabedoria, que a “História é mestra vida”.

E eu acho isto é uma grande verdade, quer se trate de pessoas e de famílias, mas também de modo especial de nações e de países. Sobretudo quando se tem uma História que tem uma bela origem, muitos personagens valorosos, fatos e feitos grandiosos e heroicos e realizações de escola. 

E neste sentido, vamos compartilhar com os estimados leitores um pouco da nossa História do Brasil, com excertos de considerações da lavra do inexcedível  Professor Plínio Correa de Oliveira. Queira me acompanhar.

 CONSIDERAÇÕES SOBRE O BRASIL IMPÉRIO

O governo de Dom Pedro II foi um longo reinado patriarcal. Tanto mais patriarcal quanto mais as suas longas barbas iam ficando brancas. Aquela barba concorria bem para a popularidade dele. Por certo, nenhum publicitário lhe recomendaria raspá-la ou reduzi-la a um bigode faceiro. A ideia até desagrada. Aquela grande barba patriarcal tinha um sentido muito afim com o modo pelo qual os brasileiros gostam de ser governados.

Um dos monarcas mais cultos de seu tempo

Dom Pedro II tornou-se Imperador em 1830 e foi deposto em 1889. Portanto, foram quase sessenta anos de reinado. Foi de longe o homem que mais longamente governou o Brasil. Creio, aliás, que a essa sobrevivência da monarquia – um pouco como Moisés vogando num bercinho no Nilo, assim Dom Pedro II nas suas almofadas nos braços incertos de José Bonifácio – deveu-se não só a unidade do Brasil, mas o fato deste País não ter caído no regime dos “pronunciamentos” das repúblicas espanholas da América do Sul, nas quais, “por dá cá aquela palha”, eclodiam brigas – um tanto herdadas do temperamento “caliente” da madre pátria – logo puxadas a tiros. Depõem um presidente, colocam outro… lá vai aquela coisa.

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Dado nosso feitio, nós, brasileiros, custamos a entrar na briga, mas para sair depois também não é fácil.

Apaixonamo-nos pelas brigas e aquilo vai até onde for…

O Brasil teve praticamente – exagerando um pouco – cinquenta anos de paz. Houve alguns golpes de Estado e outros episódios análogos, mas que não tocaram na pessoa do monarca nem no poder central. Foram pequenos golpes regionais, coisas desse gênero. Dom Pedro II foi um símbolo de união e de paz no Brasil.

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José Bonifácio

Ele parece ter compreendido isso perfeitamente, e desde o começo colocou-se numa posição assim. José Bonifácio despertou nele um ardente desejo de desenvolver- -se intelectualmente. Para mim, não há dúvida de que ele foi um dos monarcas mais cultos de seu tempo. Não sei se ele era tão inteligente, pois não conheço um lance de grande inteligência dele. Mas era um homem que lia muitíssimo e tinha a ambição de ser conhecido no mundo inteiro como um grande intelectual. E foi. Se buscarmos na enciclopédia Larousse os “Pedros” do Brasil, encontraremos referências a Pedro II como sendo um sábio que se distinguiu entre os sábios. Correspondia-se com Victor Hugo e com outros grandes intelectuais daquele tempo. Quando ele ia à Europa, recebia visitas dessa gente e assim teve para si uma espécie de carreira intelectual ao lado da política. Essa carreira intelectual dava-lhe prestígio no Brasil, porque ter um imperador considerado sábio no mundo inteiro dava cotação, e a sua projeção internacional neste sentido era maior do que a de qualquer brasileiro. Ele pairava nas nuvens…

Patriarca da grande família chamada Brasil

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De outro lado, pela Constituição brasileira, o seu papel era de não entrar em partido político e não tomar a defesa de nenhum, mantendo uma espécie de equilíbrio entre os partidos. E ele se atinha estritamente à Constituição. Enquanto seu pai era despótico e cheio de venetas, ele, de um temperamento bom, pachorrento, amável, muito cordial, cumpria a Constituição à risca.

Entretanto, Dom Pedro II encontrou uma saída para dominar a política: seu prestígio pessoal sobre os políticos era tão grande que, embora tenha exercido com sobriedade as atribuições de Imperador, as de conselheiro extraoficial dos políticos exerceu-as largamente. Inclusive, faziam- -lhe a acusação de que mandava mais no Brasil por seu prestígio pessoal do que como monarca. Queriam ver nisso uma inversão da Constituição, mas ficava-lhe fácil argumentar: “Não. Qual foi o artigo que eu violei? Aconselhar-se comigo numa ação privada? Eles podem se aconselhar com quem quer que seja, só não podem aconselhar-se com o Imperador?”

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Imaginem homens, vindos de qualquer ponto do Brasil, que vão exercer suas funções governamentais no Rio de Janeiro e encontram um monarca que está governando há cinquenta anos… Com uma memória prodigiosa, conhece tudo como se deu, como foi, como não foi, e sabe aconselhar para além de suas atribuições. De maneira que ele ajuda os ministros a acertarem. Não pediriam conselhos a esse homem?

Ademais, com o jeitão dele – de bom pai de família, papai de todos os ministros mais novos que chegavam, conselheiro de todo o mundo que queria dele um bom aviso, uma boa ponderação, uma boa sugestão, acima de todos os outros como imperador, como sábio, como homem que tinha no Brasil uma bela fortuna – ele estava quase invulnerável, por cima das nuvens e numa posição meio de patriarca desta grande família chamada Brasil, e meio de chefe de Estado. Um rei que governa como pai dá licenças e conselhos a todo o mundo.

Isso proporcionava uma grande concórdia nacional dentro das paixões regionais que havia: contendas entre partidos, saía porrete, falsificação de eleições… Contudo nunca eram brigas profundas, mas superficiais. No fundo, reinava uma grande tranquilidade, perturbada apenas pela Guerra do Paraguai.

Nessa guerra, Dom Pedro II se empenhou de tal maneira que quando ela se iniciou, ele era ainda mocetão; quando acabou, as barbas dele tinham ficado brancas. Provavelmente, ele compreendia que se perdesse a guerra perdia o trono. Então, agarrou-se à vitória do Brasil com toda a força, foi lá, lutou, entrou na história, mandou o Conde d’Eu, genro dele, batalhar também, deu todo o apoio a Caxias. Participou intensamente da guerra até Solano Lopes ser derrubado. Um ano depois de ter vencido a guerra, mais ou menos, mandou um oficio ao parlamento pedindo, nos termos da Constituição, licença para se afastar do Brasil para descansar por causa da guerra.

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O imperador D. Pedro II com os seus dois genros, o Duque de Saxe-Coburgo-Gota e o Conde D’Eu, em Alegrete, durante a Guerra do Paraguai

O Brasil teve a segunda esquadra mercante do mundo

A viagem de um monarca naquele tempo, de navio, era lenta, levava mais ou menos um ano. Acrescentando que, com as economias que tinha feito, ele estava em condições de pagar todo o gasto da viagem e não precisava o Tesouro brasileiro entrar com um tostão.

Nesse período, o Brasil próspero e tranquilo estendeu muito suas fronteiras interiores, quer dizer, a parte do solo brasileiro cultivada cresceu muito. Não foi preciso fazer reforma agrária. Tirava do Estado, é claro. Ali não tem dono, os fazendeiros entravam, abriam fazenda, aquilo passava a pertencer a eles e estava acabado!

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Armada Imperial do Brasil

Assim, o Brasil passou a produzir grande quantidade de víveres, dos quais os principais eram o café e o fumo. Aliás, no brasão de armas do Brasil daquele tempo notam-se ramos de café e de fumo.

O Brasil precisou e teve ele próprio a sua esquadra mercante. Constituída de navios construídos com madeira das florestas brasileiras, chegou a ser a segunda do mundo. Explica-se: os mercados consumidores – os Estados Unidos, um pouco o Canadá e as várias nações da Europa – eram muito distantes. O Brasil com o litoral enorme precisava fazer navegação de cabotagem, porque as estradas internas eram muito raras; então ficava mais fácil realizar a comunicação por meio do mar. Sem muitos navios não era possível conseguir isso. O Brasil ficou com uma esquadra mercante colossal.

As finanças estavam prósperas

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Qual era o estado das finanças? Nas notas do tempo do Império estava escrito o seguinte: “Mediante a apresentação desta cédula, encontrará Vossa Senhoria no Tesouro Nacional equivalente quantidade em ouro.” E era verdade. Bastava a pessoa chegar no Tesouro e dizer “Eu quero isto em ouro”, que eles davam.

Mas, como é muito mais fácil transportar papel do que ouro, acontecia que os comerciantes pagavam um tanto para receber em papel e não em ouro. É claro, porque como valia exatamente o mesmo tanto uma coisa quanto outra, para quem precisa ir, por exemplo, de São Paulo ao Rio de Janeiro carregando cem mil réis em ouro, tinha de levar um saco; enquanto que a mesma quantia em papel cabia numa bolsa. Resultado, pagava-se um acréscimo para receber o papel moeda que, por isso, valia ligeiramente mais do que o ouro, de tal maneira as finanças estavam prósperas. Era o ouro extraído das próprias minas do Brasil.

Havia inflação? Não propriamente. Tirava-se do chão o ouro e a prata, cunhava-se e distribuía-se. Hoje, aperta-se um botão, a máquina gira e saem as notas. Naquele tempo não era assim. As notas valiam, de fato, o correspondente em ouro e prata, e isso em qualquer mercado do mundo.

Com isso o Brasil prosperou colossalmente. Principalmente duas cidades, São Paulo e Rio de Janeiro, se tornaram centros animados de contato com o exterior”.

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Rio de Janeiro – 1889

A nossa moeda – o real, era tão forte que, pasmem, meus irmãos, se ombreava ao dólar e à libra esterlina, a poderosa moeda da Inglaterra!

Nosso Imperador era um literato, amante das ciências e das artes, incentivando o estudo das línguas, frequentava assiduamente as reuniões do Instituto Histórico Geográfico Brasileiro criado em 1838, chegando a presidir diversas sessões consolidando o IGHB -Centro de Estudo Histórico e Literários bastante ativo, impulsionando a produção de autores como Joaquim Manoel de Macedo e Gonçalves Dias. Também envolve-se na condução e realização de projetos da Academia Imperial de Belas Artes utilizando-a inteligentemente como um fator de fortalecimento da Monarquia e da unificação  nacional. Financia e fornece auxílio público e privado, distribui bolsa, prêmios e medalhas aos artistas mais destacados. Por meio de encomendas oficiais ampara figuras como Félix Taunay. Adquire obras de Victor Meirelles, Pedro Américo, a exemplo da Batalha de Guararapes, de Américo e a Primeira Missa  no Brasil de Meirelles, obras famosas e que retratam o nascimento e a formação do Brasil.

Interessado nas ciências, estuda línguas, astronomia e geologia apoiando projetos de pesquisa científica de Carl F.P.Von Martius  e de outros cientistas. Cria a Imperial Academia de Música e a Ópera Nacional e auxilia  e auxilia compositores célebres como Richard Vagner, Enfim, haveria tanto e tanto para escrever sobre esse assunto relacionado ao apreço que nosso Imperador tinha pela cultura, pela arte e a ciência que extrapolaria os limites deste post.

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carta manuscrita por D. Pedro II a um cientista francês

Ganhou respeito e admiração de estudioso renomados como Grahn Bell, Victor Hugo, Richard Vagner, Louis Pasteur e Jean Martin Charot. Implementou as Linhas Férreas, Telegráficas e de Navios a Vapor, e tinha um projeto de utilizar largamente os nossos recursos fluviais.

Saliente-se por oportuno, que D. Pedro não era nem uma figura ornamental como os monarcas da Inglaterra nem tampouco um autocrata como eram os Czares russos, exercendo o poder através da cooperação com políticos eleitos, os meios econômicos e apoio popular. E esta interdependência e interação foram uma marca saliente no reinado de D. Pedro II. Os mais notáveis sucessos políticos do imperador foram alcançados devido à maneira cooperativa de não confrontação em face de interesses diversos e figuras partidárias distintas. Com efeito, ele era extremamente tolerante, raramente se ofendendo com críticas e oposição. E o que é de importância capital, só nomeava candidatos altamente qualificados para posições no governo e coibia a corrupção.

Fatores que corroíam o trono de Dom Pedro II

Durante esse tempo, Dom Pedro II viajou prodigiosamente pelo Brasil. Era um homem forte, muito robusto e fazia longas viagens pelo interior, às vezes no lombo de burro e de cavalo. Visitou o País inteiro e tomava notas. Ele tinha um famoso caderno preto, onde registrava todos os abusos que notava. Chegando ao Rio de Janeiro, ele mandava chamar os ministros e pedia interferência contra tal juiz que era ladrão, tal outro não sei o quê… Esse caderno era misterioso, ninguém lia, só ele.

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Nesse regime, esse homem conhecedor e conhecido do Brasil inteiro, palmo a palmo, tornou-se íntimo de todo o mundo. Isso ainda firmou mais a influência dele.

Contudo, alguns fatores corroíam seu trono. Quais eram esses fatores? Primeiro, o fato de que ele era o único monarca do continente americano. A monarquia parecia uma forma de governo velha, que não pegava em terras novas. A tentativa de instaurar uma monarquia no México, com o Imperador Maximiliano, deu numa tragédia em Querétaro. Foi uma coisa efêmera, não pegou, e constituiu para os olhos do espírito liberal daquele tempo mais uma prova da incapacidade de a monarquia germinar na América. Havia, pois, uma certa vergonha do Brasil estar fora de moda, sendo monarquia, porque a república era a forma de governo elegante do tempo. A França e a América do Norte eram repúblicas. A Inglaterra, apesar de não ser republicana, era a mais liberal das monarquias da Europa. De maneira que tudo isso fazia com que o Imperador parecesse uma excrescência que o curso dos tempos teria que eliminar.

Por outro lado, também concorreu muito para a queda da monarquia a atitude de Dom Pedro II na questão religiosa com Dom Vital, que não é o momento de tratar.

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Dom Pedro II no Oriente

Outra circunstância foi a seguinte: o Imperador, ele próprio, extremamente liberal, proporcionou todas as facilidades possíveis para a república entrar. O Partido Republicano gozava de toda a liberdade.

Um caso ocorrido na minha família mostra bem isso. Minha avó tinha um irmão que fez concurso para a Faculdade de Direito e passou. Ele devia ser nomeado pelo Imperador a quem escreveu uma carta, dizendo: “Eu previno Vossa Majestade que sou republicano e que, como professor da Faculdade de Direito de São Paulo, trabalharei pela proclamação da república. Portanto, se disserem que eu, tendo sido nomeado por Vossa Majestade, fiz propaganda republicana, não julgueis que sou um traidor e que vos devo uma cátedra a qual conquistei pelo meu talento. Agora, decidi como quiserdes.”

Depois de alguns dias saía o decreto do Imperador nomeando o republicano como catedrático da Faculdade de Direto. Fatos como este há em quantidade no reinado dele. Ele corroía assim o seu próprio trono”

Victor Hugo chegou a dizer que, se as monarquias europeias tivessem um monarca como D. Pedro a república não teria logrado se estabelecer em muito de seus países! Era considerado o mais democrata de todos os monarcas de seu tempo!

Visita a Pirassununga

A visita de Dom Pedro II a uma cidade do interior de São Paulo, Pirassununga, onde moravam Dona Lucília e meus avós maternos, retrata bem o aspecto familiar do relacionamento do Imperador com o povo brasileiro.

Naturalmente, toda a cidadezinha estava avisada com muita antecedência da chegada do monarca. Então prepararam grandes festas e foram recebê-lo na estação de trem.

Havia em Pirassununga fazendas com pomares fertilíssimos, os quais produziam frutas em tal quantidade que estas caíam pelo chão e qualquer pessoa podia pegar, sem pedir licença; aquilo era aberto, porque dava para quem quisesse e sobrava toda espécie de frutas.

Ora, Dom Pedro II era louco por jabuticabas e existia ali uma fazenda cujo proprietário plantara um pomar só de jabuticabas. Então, para alegrar um pouco a visita, ao invés da eterna festa de escolinha, com meninas recitando discursinhos compostos pelo professor, resolveram que era mais interessante oferecer ao Imperador e à Imperatriz um lanche em casa de meu avô, seguido de uma visita a essa fazenda para ele chupar jabuticabas à vontade.

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Durante todo esse tempo, o trem imperial ficava parado na estação de Pirassununga. Evidentemente, ninguém o movia nem tinha horário; quando o Imperador acabasse de comer jabuticabas, ele embarcava.

Chegando à cidadezinha, o monarca desembarcou ao som da banda de música municipal e foi levado para a casa de meu avô. Minha mãe me dizia que ela ainda se lembrava de minha avó ter ficado no vagão com a Imperatriz porque, sendo manca, andava com dificuldade e não ia descer. Ademais, parece que não se interessava tanto assim por jabuticabas…

O Imperador, afagando a menina Lucília, chama-a de “minha filha”

Assim, Dona Teresa Cristina permaneceu no vagão conversando com as senhoras de Pirassununga, enquanto Dom Pedro II descia até a casa de meu avô e ali tomava contato com os principais políticos da cidade. Deu-se, então, uma cena tipicamente brasileira.

Enquanto eram servidos os alimentos, o monarca pegou minha mãe, que era uma menina de quatro ou cinco anos, a pôs em pé entre os joelhos dele, e durante a conversa ele brincava com ela chamando-a de “minha filha”. Para agradá-la, distraído e meio maquinalmente, passava a mão sobre os cabelos dela. Tudo isso correspondia a essa familiaridade das coisas brasileiras, por onde Dom Pedro II era o vovô do Brasil.

Mamãe contava que seus cabelos tinham sido bem arranjados por minha avó, que os deixara ultracacheados e ornados com uma fita a qual a pequena Lucilia achava linda. Ela viu o Imperador derrubar todo o belo “edifício” e ficava com uma vontade enorme de pedir-lhe para não fazer aquilo, pois estava estragando o penteado dela.

Mas, coisas do instinto de menina, ela olhava para o pai a fim de ver se podia fazer isso, e o pai, naturalmente, percebia qual era a reação da filha. E, enquanto falava com o Imperador, ele sorria e com o olhar como que dizendo: “Não se atreva! Porque é a mão imperial, e onde ela pousa não se corrige nada. Depois que ele for embora, arranje sua fita e seus cachos.” Não foi dito, mas o olhar exprimia isto”.

Este fato revela a paternalidade de nosso Imperador e a familiaridade que tinha com o seu povo, que considerava verdadeiramente sua família, que faz lembrar um pouco o Rei de França, São Luis IX, aí pelo século XIII, que administrava a Justiça debaixo de um pé de carvalho!

“Falava o tupi na perfeição

Creio ter sido nessa mesma ocasião, não tenho certeza, que se deu outro fato o qual mostra bem a familiaridade das visitas do Imperador. Neste caso, a meu ver, familiaridade até meio excessiva…

Dom Pedro II sabia falar um dos idiomas indígenas na perfeição, como quem fala um idioma contemporâneo. Um político do lugar, querendo colocar em má situação o chefe da oposição, adversário político, quando ia da estação para a casa, disse ao Imperador:

— Vossa Majestade sabe quem aqui está em condições de falar tupi com Vossa Majestade? É o Doutor Fulano. Ele fala tupi na perfeição. Dirija-se a ele nesse idioma, pois vai ficar muito contente.

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Tendo-lhe sido apresentado o Doutor Fulano, Dom Pedro II começou a falar com ele em tupi. O homem não entendeu podia passar pela cabeça dele tudo no mundo, exceto que o Imperador lhe dirigisse a palavra em tupi. Por fim, acabou dizendo:

— Eu não entendo o que Vossa Majestade está dizendo.

Então o monarca caiu em si, compreendeu que tinham feito uma jogada política para desprestigiar o homem e disse amavelmente:

— Ah! Tinham me dito que o senhor falava tupi, por isso lhe dirigi a palavra nesta língua…

E mudou de assunto, não revelou quem lhe dissera isso e a coisa passou. (Extraído de conferência de 23/11/1985) – (Revista Dr. Plinio, Abril/2019, n. 253; pp. 16 a 23).

Concluindo: seria de muito bom alvitre que os nossos homens públicos estudassem este período de nossa História e aproveitassem muitas das suas ideias, projetos e realizações, e o modo de governar de D. Pedro II, a ver aquilo que fosse passível de aplicação, com as devidas e necessárias adaptações para os tempos atuais, pois seria de grande valia para nosso povo e uma forma de a nossa tumultuada e sofrida República prestar um culto de reverência e até de reparação à nossa Monarquia ( como aliás o fez Ruy Barbosa, um ano depois do banimento absurdo e desumano do Imperador com a nossa Imperatriz e toda a família Imperial para a França, que poderá ser objeto de um outro post, tudo com vistas a fazer de nosso País o Brasil que todos os brasileiros aspiram.

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Bibliografia e fontes de consulta:

  • Revivendo o Brasil Império, Editora Artpress, 1991, de Leopoldo Bibiano Xavier
  • Guia politicamente incorreto da história do Brasil, de Leandro Narloch, Leya Editora Ltda, segunda edição.
  • As viagens de D. Pedro II, De Roberto Khatlab,Editora Saraiva, 2015
  • Pedro. A história não contada, Leya Editora Ltda
  • Revista Dr. Plinio, abril 2010, Editora Retornarei
  • Bíblia Sagrada, Editora Ave Maria

A pressa do mundo atual e a pressa de Maria

No mundo atual, não há quem não tenha tomado contato, visto, e mesmo experimentado a pressa.

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Corre-se para não chegar atrasado em um compromisso, corre-se para fazer um negócio e lucrar muito dinheiro, corre-se atrás de bons estudos e da boa fama. Enfim, corre-se a todo o momento e por qualquer motivo. As invenções técnicas e científicas, como automóveis, aviões, celulares e internet concorreram para acelerar, ainda mais, o ritmo de vida.

O homem contemporâneo bem poderia ser qualificado de ‘o homem do corre-corre’, que depois de tanto correr, nada alcançou além de decepções, frustrações e calamidades.

Alguém, deformado pelos conceitos hodiernos, abrindo as páginas do Evangelho, encontraria dificuldades em compreender esta curta, mas intensa frase: “Naqueles dias, Maria levantou-se e dirigiu-se apressadamente às regiões montanhosas da Judéia” (Lc 1, 39).

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Qual seria a razão de uma jovem, consagrada ao Templo desde a sua infância e criada nas sublimes delícias da contemplação, lançar-se de tal modo na ação? Ademais, acabara de se dar o acontecimento ápice, não só da vida dela, mas de toda a História: concebera pela ação do Espírito Santo. Ou seja, em suas entranhas puríssimas, o próprio Filho Unigênito de Deus, gerado e não criado, consubstancial ao Pai, para nossa salvação, assumira nossa carne. Aquele a quem os céus não podiam conter, encerrara-se no seio de Maria. Haverá graça mais sublime? Existirá ocasião mais propícia para os mais altos êxtases? Que meditações e contemplações não poderiam derivar desse convívio?! Não seria a hora d’Ela recolher-se e aproveitar os nove meses de intimidade mais completa e absoluta com Seu Filho e Seu Deus?

Entretanto, o Evangelho nos narra ter a Virgem, logo após a Anunciação, levantado e se dirigido apressadamente até a Judeia, empreendendo essa viagem a fim de ajudar sua prima Isabel.

Que pressa era esta que a movia? Algum interesse pessoal? Poderia se cogitar, sem blasfemar, que na alma imaculada de Maria existisse alguma agitação?

Como resposta a essas perguntas, bem poderíamos pôr nos lábios da Virgem as palavras do profeta Elias: “Zelus zelatus sum pro Domino Deo Exercituum” (1Rs 19,14). Sim, o zelo pela causa de Deus a consumia, tomava todo o seu ser e impulsionava-a, se necessário fosse, a correr por toda a Terra para servi-LO e glorificá-LO.

Essa viagem era empreendida por Ela sem abandonar em nenhum instante a clave altíssima de suas contemplações. Maria queria servir sua prima, não por afeição familiar ou mera filantropia, mas por amor a Deus. A virtude da Caridade a levava a ajudar Isabel e o menino João, corporal e espiritualmente, santificando a criança ainda no ventre materno e produzindo em sua prima extraordinárias manifestações de enlevo e admiração pelo Messias ali presente.

Portanto, qual é a diferença entre essa santa pressa de Maria Santíssima na visitação a Sua prima Santa Isabel e a pressa do mundo moderno?

Hoje, corre-se, impacientemente, por interesse próprio, enquanto Nossa Senhora indicou que os homens devem ser pressurosos na caridade, uns para com os outros, auxiliando com entusiasmo, sem egoísmo ou delongas, a que se encontre já nesta Terra o Caminho, a Verdade e a Vida.

No encontro de Maria com Isabel temos um exemplo de perfeição, e na rejeição do Redentor por parte dos seus, um exemplo de perversidade. Diante desses dois modelos, cabe nos perguntarmos: como será a visita de Deus aos nossos corações?

Dependerá de cada um…

Quantas visitas nos oferece o Criador a todo momento! Mas os efeitos de sua divina presença variarão de acordo com a atitude tomada ao recebermos o Hóspede das almas. Muitos rejeitam suas visitas, outros as desaproveitam, e poucos são os que O acolhem com alegria. Quando alguém ouve a voz do Senhor e Lhe abre a porta de sua casa, Ele entra para cearem juntos (cf. Ap 3, 20).

Em Fátima, a Mãe de Deus visitou o mundo e nos deixou sua Mensagem, convidando-nos a conversão, a prática da oração do Rosário e a devoção a seu Imaculado Coração. Sábado próximo será o primeiro sábado do mês, onde poderemos cumprir esse pedido de Nossa Senhora.

Não sejamos nós ingratos, mas – como Isabel – recebamos de coração aberto a visita de Deus e de Maria Santíssima!

Santa Rita de Cássia, Rogai por nós

O sofrimento que tanto causa horror ao homem moderno é um dos meios mais eficazes de conferir celebridade. É o que encontramos nestas linhas sobre Santa Rita.

O cálice da obediência

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A obediência é uma das virtudes mais difíceis de serem praticadas, pois obedecer significa contrariar a própria vontade para fazer a de outrem, mortificando de modo especial a natureza humana, que recebeu de Deus a liberdade.

A História nos revela inúmeros belos exemplos de obediência. O mais sublime, sem dúvida, é o de Jesus, o qual, para redimir o gênero humano, “fez-se obediente até a morte, e morte de cruz”.

Abaixo do Salvador, o mais excelso modelo de obediência é Maria Santíssima, a perfeita discípula de seu Filho Divino, nesta como em todas as outras virtudes.

Convido o leitor a passear comigo, neste artigo, pela vida de uma santa que sorveu desde menina o cálice da obediência, seguindo o exemplo supremo de Jesus e excelso de Maria: Santa Rita de Cássia.

Sua festa se celebra no dia 22 de maio. Ela é invocada especialmente como protetora das causas impossíveis, pelo motivo que o leitor verá adiante.

Menina privilegiada

Embora já de avançada idade, Antonio Mancini e sua esposa, Amanta, não cessavam de rogar a Deus, confian­te e insistentemente, a bênção de terem um filho que ­lhes alegrasse o lar. Viviam eles na pequena aldeia de Rocca Porena, em Cássia, na Úmbria.

Para atender às preces desse piedoso casal, realizou Deus o primeiro “impossível” da vida de Santa Rita: seu nascimento no dia 22 de maio de 1381.

Era uma encantadora menina. E desde sua mais tenra idade, a Divina Providência começou a manifestar especiais desígnios a seu respeito. Segundo narra uma tradi­ção, enquanto ela dormia na cestinha que lhe servia de ber­ço, com freqüência apareciam umas raras abelhas bran­cas que esvoaçavam em torno dela e depositavam suavemente mel em seus lábios, sem feri-la ou despertá-la. Um dos camponeses vizinhos, presenciando a cena por primeira vez, quis afastar os insetos com a mão aleijada que tinha. No mesmo instante sua mão ficou curada.

Depois da morte de Santa Rita, essas mesmas abelhas brancas começaram a aparecer anualmente no mosteiro das agostinianas, onde ela passou os últimos anos de sua vida. Lá chegavam na Semana Santa e permaneciam até o dia 22 de maio. Depois se retiravam, para retornarem na Semana Santa seguinte. Até hoje podem ser vistos pelos peregrinos os buraquinhos feitos por elas nas paredes do mosteiro.

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Infância marcada pela piedade e obediência

Desde pequena, demonstrava Rita grande inclinação para a piedade. Seus pais, apesar de não saberem ler nem escrever, ensinaram-lhe o Catecismo e a história de Jesus. Dedicava-se com grande gosto à oração, meditava sempre sobre a Paixão de Nosso Senhor. Não sabia ler nem escrever. Entretanto, “lia” continuamente o mais mag­nífico de todos os livros: o Crucifixo.

Além de ser especialmente devota de Nossa Senhora, es­colheu como padroeiros São João Batista, Santo Agos­tinho e São Nicolau de Tolentino. Procurava abs­ter-se de brinquedos e travessuras próprias à ida­de infantil, como mortificação para consolar a Jesus Crucificado.

O maior anseio de sua alma era ser religiosa. Exa­tamente neste ponto, exi­giu dela a Providência um enorme ato de obediência, acei­tando um estado de vida oposto ao chamado religioso que sentia na alma. Com apenas 12 anos de idade, foi obri­gada pelos pais a contrair matri­mô­nio com o noivo por eles escolhido, chamado Paulo Ferdinando.

Sofrimentos na família

O marido logo revelou-se um homem agressivo, de mau gênio, beberrão e dissoluto, o que fazia Rita sofrer tremendamente. Ela, entretanto, não só lhe foi sempre fiel, como também suportou tudo isso com extrema pa­ciência, durante 18 anos, sempre rezando e oferecendo esta espécie de martírio pela conversão dos peca­do­res, sobretudo de seu detestável marido.

E mais uma vez o “impossível” se realizou na vida des­sa mulher exemplar. Teve ela, afinal, a alegria de ver o es­­poso converter-se e pedir-lhe perdão por todos os maus tratos e pela vida devassa que havia levado. Quão oportuna foi esta conversão! Pouco tempo depois de reconci­liar-se com Deus, pelo Sacramento da confissão, Paulo Ferdinando foi assassinado por alguns dos maus compa­nheiros que tivera.

Os filhos do casal, dois gêmeos, então com 14 anos, juraram vingar a morte do pai. Vendo Santa Rita quanto os filhos haviam herdado as más tendências do pai, e te­men­do pelo destino eterno dos dois, dirigiu a Deus uma súplica: preferia ver seus filhos mortos a seguirem o cami­nho da perdição. Logo demonstrou o Pai de Misericórdia seu comprazimento com essa súplica de uma mãe verdadeiramente católica. Em menos de um ano, os dois fi­ca­ram doentes e faleceram, perdoando os assassinos de Paulo Ferdinando.

Entrada na vida religiosa

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Viúva, sem filhos, livre de tudo que poderia atá-la ao mundo, Rita desejava fazer-se religiosa. Pediu para ser aceita no mosteiro das freiras agostinianas de Cássia, on­de sempre quisera ter estado. Mas — oh decepção! — a supe­riora lhe disse que infelizmente não podiam acei­tar viúvas na congregação, a qual era destinada apenas a virgens.

Imagine-se sua desilu­são e tristeza ao voltar pa­ra ca­sa!… Mas ela era uma mulher santa. Enquanto tal, em vez de deixar-se abater ou desanimar, decidiu seguir com mais ardor ainda do que antes sua vida de oração e peni­tência.

Acorreram em seu au­xí­lio seus padroeiros, San­to Agos­tinho, São João Batista e São Nicolau de Tolentino, obtendo da Medianeira de todas as graças a realização de mais um “impossível” em favor de sua protegida.

Conta-se que numa noite, estando ela imersa em ora­ção, apareceram-lhe estes três Santos e convidaram-na a segui-los. Em êxtase, ela os acompanhou. Quando voltou a si, estava dentro do mosteiro das agostinianas… Havia entrado lá milagrosamente, pois todas as portas e janelas encontravam-se perfeitamente fechadas.

Na manhã seguinte, a madre superiora reconheceu nesse prodigioso fato uma clara indicação da vontade divina e decidiu acolher Rita como noviça nessa santa congregação.

Obediência recompensada pelo milagre

Já revestida do hábito, a nova religiosa foi um exemplo de virtude para todas as suas irmãs de vocação.

Dos três votos da religião, aquele em que mais se esmerava era o de obediência, fazendo sempre a vontade das outras em tudo, até mesmo no que poderia parecer ridículo e insensato. Por exemplo, a superiora mandou-lhe regar todos os dias uma parreira que já estava seca e morta. A obediente freira cumpriu rigorosamente a ordem durante um ano. Uma vez mais o que parecia impossível se realizou: do tronco morto brotaram sarmentos que cresceram e produziram flores e frutos! Existe ainda essa “videira de Santa Rita”, que produz uvas de um sabor especial, as quais amadurecem em novembro.

Partícipe das dores de Jesus coroado de espinhos

Durante a Quaresma de 1443, o grande pregador Santiago de Monte Brandone fez em Cássia um magnífico sermão sobre a Paixão de Jesus, destacando sobretudo o episódio da coroação de espinhos. Depois de ouvir esse sermão, Santa Rita sentiu-se tomada do desejo de parti­cipar dos sofrimentos de Nosso Senhor nesse lance de sua Paixão.

Rezando diante de seu crucifixo, viu espargir-se dele suavemente uma luz, e um espinho desprender-se da co­roa e cravar-se em sua fronte, provocando-lhe uma ferida que a fez sofrer durante seus últimos 15 anos de vida. Além de exalar mau odor, essa provocava-lhe muitas enfermidades. Assim, teve ela atendido deu desejo de ser verdadeiramente partícipe das dores de Jesus coroado de espinhos.

Morte santa, a recompensa

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Santa Rita teve uma morte santa, sendo obediente à vontade de Deus até o fim.

Estando já muito enferma, pediu a Jesus um sinal de que seus filhos estavam no Céu. Em meio a um rigoroso inverno, recebeu uma rosa colhida no jardim de sua antiga casa, em Rocca Porena… Pediu um segundo sinal e, no fim do inverno, recebeu um figo, também de seu jardim. Com a realização desses dois “impossíveis”, Deus, por assim dizer, mostra seu comprazimento em que essa gran­de Santa seja invocada como a “Advogada dos impossíveis”.

No dia 22 de maio de 1457, voou para o Céu a bela alma de Santa Rita.

A chaga de sua fronte transformou-se em uma mancha vermelha como um rubi, de onde se exalava uma agradável fragrância. Sua cela ficou iluminada por uma luz celestial e os sinos, sozinhos, repicaram num toque de júbilo e glória.

Foi velada na igreja, aonde acorreu uma multidão de pessoas para vê-la e venerá-la. De seu santo corpo ema­nava um tal perfume que nunca foi enterrado. Perma­ne­ce incorrupto até hoje, exposto à veneração dos fiéis no convento de Cássia.

Mensagem de Santa Rita para os dias atuais

Qual é a mensagem que esta grande Santa nos transmitiria nestes dias em que vivemos?

Creio que a resposta está nas palavras proferidas pelo Santo Padre João Paulo II, em 20 de maio de 2000, saudando os devotos de Santa Rita que faziam a peregrinação jubilar:

É uma mensagem que brota de sua vida: a humildade e a obediência foram o caminho que Rita percorreu para uma semelhança cada vez mais perfeita com Cristo crucificado. O estigma que brilha em sua fronte é a autenticação de sua maturidade cristã. Na cruz com Jesus culminou o amor que já havia conhecido e expressado de modo heróico em seu lar e mediante a participação nas vicissitudes de sua cidade.

Seguindo a espiritualidade de Santo Agostinho, fez-se dis­cípula do Crucificado e ‘especialista em sofrimento’, aprendeu a compreender as penas do coração humano. Deste modo, Rita se converteu na advogada dos pobres e dos desesperados, obtendo inumeráveis graças de consolo e for­taleza aos que a invocam nas mais diversas situações.

Que Santa Rita de Cássia nos ajude a compreender os desígnios de Deus para cada um de nós individualmente, e a sorver até a última gota o cálice da obediência à sua vontade santíssima, ao longo de nossa existência.

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Nossa Senhora de Fátima

Caros amigos e amigas,

Hoje, 13 de maio, é o dia em louvor à Nossa Senhora de Fátima, Aquela que nos guia, protege, ilumina, mediando a nós todas as graças para superarmos nossas dificuldades terrenas.

Fiquemos com o artigo abaixo, que nos conta um pouco sobre essa devoção tão bonita espalhada por todo o mundo!

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Fátima difunde uma luz sobrenatural, que arrebatou os pequenos pastores de forma irresistível, e ilumina o coração dos peregrinos que acorrem a esse lugar sagrado à procura de consolação.

Quem chega a Fátima pela cômoda e segura autopista que rasga a Serra d’Aire, perde o contato com uma realidade que há cento e dois anos se repete invariavelmente, por ocasião das comemorações

das aparições: numerosos grupos de peregrinos percorrendo a pé os caminhos e estradas que conduzem à Cova da Iria, o local onde a Mãe de Deus apareceu, em 1917.

É um contraste tão marcante com os costumes e a mentalidade consumista de nossa época, toda ela voltada para a fruição fácil da vida, que não há como ignorá-lo. O que atrai para Fátima essas multidões de rosto crestado pelo sol das longas caminhadas? O que as leva a essas surpreendentes penitências, neste tempo tão avesso ao sacrifício?

O maravilhamento causado pelas aparições

Uma rápida recordação de alguns aspectos pouco ressaltados das aparições pode ser elucidativa.

Ao verem a Santíssima Virgem, a 13 de maio, a reação das três crianças, Lúcia, Francisco e Jacinta, apesar da diferença de temperamentos, teve um ponto em comum. Todas ficaram maravilhadas, quase se diria fascinadas, com a visão celestial. Durante o resto do dia não falavam de outro assunto, encantadas com o que tinham visto e ouvido.

Mas, quando o sol declinou no horizonte, anunciando a hora de reunir o rebanho e voltar para casa, retornando à realidade do dia-a-dia, cada um reagiu a seu modo. Francisco, mais pensativo, nada dizia. Lúcia, um pouco mais velha que seus primos, já cogitava na reação de seus familiares e vizinhos e achou mais prudente guardar segredo de tudo. Porém, Jacinta, mais expansiva, não conseguia conter dentro de si a alegria sobrenatural que a inundava e não parava de exclamar: “Ai, que Senhora tão linda! Ai, que Senhora tão bonita!”

Um segredo impossível de guardar

Enquanto caminhavam, Lúcia procurava convencê-la a manter tudo em segredo:

— Estou mesmo a ver que ainda vais dizer a alguém…

— Não digo, não.

— Nem sequer à tua mãe.

— Não vou contar nada, prometo.

Quando chegaram à casa, os pais ainda não tinham regressado da feira, numa localidade próxima. Jacinta ficou junto ao portão, à espera, e assim que viu a mãe, correu a abraçá- la para contar-lhe o grande acontecimento: — Ó mãe, vi hoje, na Cova da Iria, Nossa Senhora! Dª Olímpia não acreditou, por mais que a menina o reafirmasse com veemência e fizesse a descrição minuciosa e maravilhada do ocorrido.

Mais tarde, estando toda a família sentada à lareira para o jantar, Dª Olímpia, cuja incredulidade já vacilava ante a firme insistência da filha, perguntou-lhe: — Ó Jacinta, conta lá como foi isso de Nossa Senhora na Cova da Iria.

“Uma Senhora mais brilhante que o sol”

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E a inocente pastorinha tentou traduzir em palavras aquilo que transbordava do seu coração: “Era uma Senhora tão linda, tão bonita!…

Tinha um vestido branco, e um cordão de oiro ao pescoço até ao peito…

A cabeça estava coberta por um manto branco, também, muito branco, não sei, mas mais branco que o leite…

e tapava-a até aos pés… Era todo bordado de oiro… Ai que bonito!… Tinha as mãos juntas, assim — e a pequena levantava-se do banquito, juntava as mãos à altura do peito a imitar a visão.

“Entre os dedos tinha as contas. Ai que lindo tercinho que Ela tinha… todo de oiro, brilhante, como as estrelas da noite, e um crucifixo que luzia…

que luzia… Ai que linda Senhora! Falou muito com a Lúcia, mas nunca falou comigo, nem com o Francisco…

Eu ouvia tudo o que elas diziam… Ó mãe, é preciso rezar o terço todos os dias… A Senhora disse isso à Lúcia.

E disse também que nos levava todos três para o Céu, a Lúcia, o Francisco e mais eu… (…) Quando Ela entrou pelo Céu dentro, parece que as portas se fecharam com tanta pressa que até os pés iam ficando de fora entalados…

Era tão lindo o Céu!… Havia lá tantas rosas-albardeiras!…” (1)
Muitos anos depois, Lúcia faria uma descrição mais ponderada dessa “linda Senhora” que tanto arrebatara Jacinta: “Uma Senhora, vestida toda de branco, mais brilhante que o sol, espargindo luz mais clara e intensa que um copo de cristal cheio d’água cristalina, atravessado pelos raios do sol mais ardente.

Estávamos tão perto, que ficávamos dentro da luz que A cercava, ou que Ela espargia.” (2)

Envoltos pela luz divina

Desde o primeiro momento, brilha em Fátima uma luz sobrenatural de beleza indizível que arrebata os pequenos pastores. Tudo quanto a “linda Senhora” lhes pede, eles aceitam com entusiasmo e sem titubear: oferecer sacrifícios pela conversão dos pecadores, reparar o Imaculado Coração de Maria pelas ofensas sofridas, guardar o segredo que a Senhora lhes contou, rezar o terço todos os dias pela paz. Até a morte as crianças estão dispostas a enfrentar para fazer a vontade de Nossa Senhora.

Em certo momento da aparição, os pastorinhos são envolvidos ou penetrados por uma luz emanada das mãos virginais de Maria, que Lúcia assim descreve: “Abriu pela primeira vez as mãos, comunicando-nos uma luz tão intensa, como que reflexo que delas expedia, que nos penetrava no peito e no mais íntimo da alma, fazendo-nos ver a nós mesmos em Deus, que era essa luz, mais claramente que nos vemos no melhor dos espelhos” (3).

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Essa luz que penetrou no íntimo das almas das crianças parece ter sido como que um flash da luz de Deus, que lhes fez experimentar algo da felicidade celestial. “Nela nos víamos como que submergidos em Deus” (4).

Isso lhes deu o ânimo necessário para enfrentar todas as adversidades e cumprir sua vocação, oferecendo a vida pela conversão dos pecadores “Foi uma graça que nos marcou para sempre na esfera do sobrenatural” — afirmou muitos anos depois a Irmã Lúcia.

Os Beatos Jacinta e Francisco morreriam pouco após as aparições. A Irmã Lúcia entraria para o Carmelo de Coimbra, onde terminaria exemplarmente sua existência, aos 97 anos, iluminada ainda por essa luz sobrenatural.

Em seu último livro, “Como vejo a mensagem”, confessa ela esse maravilhamento interior que dominou toda a sua vida: “Ao ver ali uma Senhora tão linda, que me diz ser Do Céu, senti uma alegria tão íntima que me encheu de confiança e amor; parecia- me que já nada me podia separar desta Senhora…”

Luz que dissipa as trevas da incredulidade

As graças extraordinárias concedidas pela Santíssima Virgem aos pastorinhos, e que operaram neles uma transformação tão profunda que os elevou aos altos píncaros da santidade, pode-se dizer que foram uma primeira realização do triunfo do Imaculado Coração de Maria. Esse triunfo, porém, Nossa Senhora o anunciou para o mundo inteiro: “Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará. (…) E será concedido ao mundo algum tempo de paz”. A intensa luz sobrenatural que envolveu num primeiro momento os pastorinhos, virá a iluminar toda a terra, arrebatando as almas por sua beleza e originando assim uma nova primavera da fé.

Foi o que muito oportunamente ressaltou, por outras palavras, Dom António Marto, Bispo de Leiria-Fátima, na comemoração do centenário do nascimento da Irmã Lúcia: “Eis, pois, a grande missão confiada à Igreja: fazer resplandecer a beleza do rosto de Deus em Cristo, manso e humilde de coração, num mundo que tanta dificuldade tem em compreendê-lo, e despertar a dimensão mística da fé para lhe dar calor e alegria”.

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A belíssima procissão em homenagem a N.S., no Santuário de Fátima(Portugal)

Promessa de auxílio maternal

Talvez sem o perceber, muitos dos que vão a Fátima, em peregrinação e com espírito de penitência, acorrem à procura dessa luz sobrenatural que os conforte nas adversidades, os fortaleça a fé, lhes dê essa alegria contagiante que fazia a pequena Jacinta exclamar de júbilo: “Ai, que Senhora tão linda!” E se tantos retornam a esse lugar sagrado é porque algum fulgor dessa luz divina penetrou as suas almas e lhes promete assisti-los ao longo da vida, tal como Nossa Senhora o fez à Irmã Lúcia, ao lhe dizer que ficaria ainda algum tempo aqui na terra: “Não desanimes. Eu nunca te deixarei. O meu Imaculado Coração será o teu refúgio e o caminho que te conduzirá até Deus”.² 

 

José Antonio Dominguez

1) Pe. João M. De Marchi IMC, Era uma Senhora mais brilhante que o sol, 7ª edição, p. 84.
2) Memórias da Irmã Lúcia, Fátima, 3ª edição, 1978, pp. 144-148.
3) idem, pp. 146-148.
4) idem, p. 149
(Revista Arautos do Evangelho, Maio/2007, n. 65, p. 30 à 33)

A SUBLIMIDADE DO SACERDÓCIO

Prezados irmãos e irmãs, estamos em pleno período pascal no qual  celebramos , a cada dia, a Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo , sobretudo por meio da Santa Missa que é o mais alto e perfeito ato de Religião do qual o homem pode participar, e oferecer a Deus,  unindo suas intenções à do Sacerdote celebrante, que ali age ” in persona Christi”,, ou seja na pessoa de Cristo. Sim, meus irmãos, na Celebração Eucarística, ele empresta seu aparelho vocal a Jesus, a tal ponto que no momento auge da celebração , ou seja na consagração das espécies do pão e do vinho,  opera-se o milagre mais extraordinário e grandioso que existe, a saber: a transubstanciação das espécies do pão e do vinho, no corpo, sangue, alma e divindade de Jesus, aquele mesmo Jesus, que se encarnou no seio da Virgem Maria, que nasceu numa gruta, e viveu 33 anos no meio dos homens fazendo o Bem, pregando a sua santa doutrina, realizando milagres de todas as naturezas, amparando, protegendo, ensinando,reerguendo , animando, admoestando, corrigindo homens e mulheres, e após passar por sofrimentos atrozes  foi crucificado e morto pregado numa Cruz . Mas ao terceiro dia, Ele ressuscitou gloriosamente,  ainda passou 40 dias com os homens, e tendo completado sua ação salvífica, ascendeu de corpo alma ao Céu.

 

Mas não nos deixou órfãos, pois instituiu a Igreja e o sacerdócio ordenado,  além de nos deixar a Sua Santa Mãe durante alguns anos animando, orientando e fortalecendo a Igreja nascente, formada por Ela, as santas mulheres, os seus apóstolos e discípulos.

Como se vê meus irmãos, Jesus deixou-nos dois tesouros, de valor inexcedível,  qual seja a Santa Igreja, o coração desta que é o Sacerdócio ordenado, cuja missão é ensinar, conduzir e santificar o povo de Deus, através da da pregação Palavra e sobretudo da administração dos sacramentos, entre os quais sobreleva o da celebração e da distribuição da Eucaristia.

Foi assim que, nesses tempos difíceis que vivemos, deparei-me com , um resumo da Carta encíclica ” Pieni l’animo”, de 28.07.1906, do Papa São Pio X, sobre o Sacerdócio, na qual tece considerações sobre os cuidados na escolha dos candidatos a tão sublime ministério, alertando os Bispos para uma  venenosa atmosfera que ja corrompia largamente os espíritos, cujos mortais efeitos, “contaminam a carne, desprezam a soberania e maldizem a majestade” (Jd, 1,8). Ou seja, segundo São Pio X,  a mais degradante corrupção dos costumes e  o desprezo aberto a toda autoridade, eram um estado de espírito que penetrava, desde então no santuário, infectando sobretudo os jovens sacerdotes neles produzindo devastações.

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Coincidentemente, tomei conhecimento de uma Carta do Papa Emérito Bento XVI, de 12 de abril do corrente ano, publicada em vários jornais do mundo inteiro , na qual o Papa emérito aponta, entre outros fatores, a influência da revolução sexual dos anos 60,  especificamente a Revolução de 1968, evento de escala sem precedente na História, sobre a formação e a vida dos sacerdotes desde então, cujos efeito funestos se fazem sentir mais do que nunca nos dias atuais.

Seguem abaixo alguns excertos da Carta Encíclica do Papa São Pio X :

SACERDÓCIO E ORGULHO DA MENTE

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“Com a alma cheia de salutar temor pelas severíssimas contas que deveremos prestar um dia a Jesus Cristo, Príncipe dos Pastores, a respeito do rebanho que Ele nos confiou, passamos os dias na permanente preocupação de preservar os fiéis, tanto quanto possível, dos perniciosíssimos males que afligem atualmente a sociedade humana.

Consideramos, assim, dirigidas a nós estas palavras do profeta: “clama em alta voz, sem constrangimento; fazei soar a tua voz como corneta” ( Is 58, 1). E seja de viva voz,seja por escrito não deixamos de advertir, de pedir, de repreender, excitando sobretudo o zelo de nossos irmãos no Episcopado para que cada qual exerça a mais solícita vigilância sobre a porção do rebanho a ele confiado pelo Espírito Santo.

CORRUPÇÃO DOS COSTUMES E DESPREZO POR TODA AUTORIDADE

É de maior gravidade o motivo que nos impele a elevar novamente a voz. Trata-se de solicitar toda a atenção de vosso espírito e toda a energia pastoral contra uma desordem cujos funestos efeitos já se fazem sentir; e se não arrancarmos com mão forte até suas mais profundas raízes, dela decorrerão consequências ainda mais fatais ao longo dos anos

De fato, temos sob os olhos cartas de vários de vós, veneráveis irmãos, transbordantes de tristeza e de lágrimas, deplorando o espírito de insubordinação e de independência que se manifesta cá e lá no meio do clero.

Em nossos dias, infelizmente, uma venenosa atmosfera corrompe largamente os espíritos; seus mortais efeitos foram já descritos pelo Apóstolo São Judas: “ Contaminam a carne, desprezam a soberania e maldizem a majestade” (jd1,8); ou seja, além da mais degradante corrupção dos costumes, o despreza aberto a toda autoridade e àqueles que a exercem. Mas o que enche de imensa dor nossa alma é o fato de que esse espírito penetre de algum modo até no santuário e infecta aqueles aos quais mais propriamente se deveria aplicar a palavra do Eclesiástico “ este é o povo da obediência e do amor”.

E é sobretudo entre os jovens sacerdotes que esse tão funesto espírito produz devastações espalhando entre eles novas e reprováveis teorias sobre a própria natureza da obediência. Coisa mais grave, como se quisesse conquistar com o tempo novos recrutas para a multidão nascente dos rebeldes, faz-se dessa máximas uma propaganda mais ou menos velada entre os jovens que no recinto dos seminários se preparam para o sacerdócio.

O SACERDÓCIO NÃO É UM OFÍCIO QUALQUER

Assim veneráveis irmãos, sentimo-nos ao dever de apelar à vossa consciência para que, sem qualquer hesitação, vos empenheis com vigor e perseverança na tarefa de destruir essa má semente fecunda e perniciosíssima consequências. Recordai-vos sempre o Espírito Santo deu-vos o encargo de governar. Lembrai-vos do preceito de São Paulo a Tito “ Repreende com toda autoridade. E que ninguém te menospreze”! )Tt2.15).

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Exigi severamente dos sacerdotes e dos clérigos aquela obediência que, se para todos os fiéis é de todo obrigatória, para os sacerdotes constitui a parte de seu dever sagrado.

Para evitar a multiplicação desses espíritos rebeldes, será muito útil, veneráveis irmãos, ter sempre a advertência do Apóstolo a Timóteo: “ A ninguém imponhas as mãos inconsideradamente” (I Tm5,22). De fato, a facilidade na admissão às Sagradas Ordens, que abre naturalmente o caminho para multiplicação das pessoas no santuário, não aumenta em seguida a alegria, {…}

O sacerdócio, instituído por Jesus Cristo para a salvação eterna das almas, não é por certo uma profissão ou um ofício humano qualquer, que pode ser exercido livremente por todos quantos queiram.

Em consequência que os Bispos promovam às Ordens, não de acordo com os desejos ou pretensões dos candidatos, mas, como prescreve o Concílio de Trento, conforme a necessidade das dioceses. Assim agindo, poderão escolher só os que são de fato idôneos, recusando os que demonstram inclinações contrárias à vocação sacerdotal, entre estas. Sobretudo, a indisciplina e aquilo que a gera, o orgulho da mente.

SEJAM BANIDOS DO PÚLPITOS ARGUMENTOS MUNDANOS

Além da desordem de insubordinação e de independência que aqui deploramos, há em alguns membros do jovem clero outra que vai muito mais longe e cujos perniciosos resultados são muito mais consideráveis. Com efeito, não faltam aqueles que estão de tal forma invadido por tão reprovável espírito que, abusando do sagrado ministério da pregação, dele se fazem abertamente propugnadores e apóstolos para ruína e escândalo dos fiéis {…}

Ninguém pode ter autorização para pregar “sem antes ser posto à prova quanto à sua vida, sua ciência e seus costumes” (Concílio de Trento). Sessão V. Sobre a Reforma. C2. Os padres de outra diocese não devem ser autorizados a pregar sem as cartas testimoniais do respectivo Bispo. A matéria da pregação deve ser a indicada pelo Divino Redentor, que disse “Pregai o Evangelho” (Mc 16,15), “ ensinai-as o observar tudo o que vos prescrever” ( Mt 28, 20). Ou seja, como comenta o Concílio de Trento, “indicando=lhes os defeitos que precisam abandonar e as virtudes que devem praticar para fugir do castigo eterno e conquistar a glória celeste” ( Sessão V,Sobre a Reforma,c2)

Sejam, pois totalmente banidos do púlpito os argumentos mais adequados às polêmicas de imprensa e aos discursos acadêmicos do que ao lugar santo. Dê-se preferência às pregações sobre temas morais, em lugar dessas conferências, das quais o mínimo que se pode dizer é que são infrutíferas. Faça-se a pregação “ não com a eloquência persuasiva da sabedoria humana, mas como uma demonstração do Espírito e do poder divino”(I Cor 2,4). Por isso a principal fonte da pregação deve ser a Sagrada Escritura, entendida, não segundo as opiniões particulares de espíritos às mais das vezes obnubilados pelas paixões, mas segundo a Tradição da Igreja, as interpretações dos Santos Padres e dos Concílios.

De acordo com estas normas, veneráveis irmãos, deveis ser os juízes daqueles aos quais confiais o ministério da divina palavra, E quando encontrardes pregadores mais preocupados com seus próprios interesses do que os de Jesus Cristo, mais ávidos de sucesso humano que do bem das almas, afastai-os do púlpito. Admoestai-os, e, se isto não for suficiente, removei-os inexoravelmente de um encargo do qual se mostram totalmente indignos”( extraído da Rev. Arautos do Evangelho, de fevereiro de 2017)

Após a Missa dos Santos Óleos, dia 18 de abril do corrente ano, celebrada por S. Exa. Revma.   o Arcebispo D. Murilo Krieger, na Catedral Basílica de Salvador, em meio a centenas de sacerdotes – e da qual participei com o Coral dos Arautos em Salvador,   em entrevista à TV Bahia, o nosso Arcebispo disse que devemos pedir a Deus” santos e bons sacerdotes”. Sim , meus irmãos, devemos também dar nossa parcela de contribuição para que nossa Igreja possa crescer  em santidade, em amor a Deus, e na fidelidade  à sua Missão de ensinar, conduzir e santificar o povo de Deus, através de santos  sacerdotes , cheios de zelo pela Casa de Deus, rezando, e tudo fazendo para também sermos santos e fazendo de nossas famílias verdadeiras igrejas domésticas.

 

São Pio X, Excertos da Carta enciclíca “ Pieni l animo”, 28/071906: Ass 39(1906), 321-329